A apreensão de uma carga de madeira transportada irregularmente em Palmeira (40 km ao sul de Ponta Grossa), na semana passada, acabou revelando a face autoritária do prefeito da cidade, Mussolini Mansani (PTB). A carga seria descarregada na serraria da filha do prefeito, Cláudia Mansani. Porém, foi interceptada pela Polícia Civil, que havia recebido uma denúncia anônima de irregularidade no transporte. Ao fazer a abordagem, os policiais descobriram que a mesma nota fiscal estava sendo usada pela quarta vez para transportar cargas diferentes. A nota também não tinha a data de emissão, nem de saída do material.
O delegado da cidade, Sílvio Eduardo Hellwig, optou então pelo flagrante. Algumas horas depois da apreensão, segundo o delegado, a filha do prefeito foi até a delegacia, alegando que a nota foi trocada por engano. Ela então apresentou outra nota, que seria a correta, com data de emissão do dia 5 de junho, um dia antes da apreensão. O delegado recebeu a nova nota e pediu que a proprietária da serraria lhe apresentasse a autorização para corte, que é fornecida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Uma hora depois Cláudia voltou à delegacia com o seu pai, o prefeito Mussolini Mansani. "E nesse momento, o prefeito disse para eu fazer o que eu achava necessário, mas que ele iria pedir minha cabeça", conta o delegado.
No dia seguinte, o prefeito foi numa rádio local dizendo que o delegado já estava transferido e que portanto não tinha mais competência para tomar as atitudes que vinha adotando. Só que o delegado não recebeu nenhuma portaria de transferência. No mesmo dia, o delegado encaminhou à Divisão de Policiamento do Interior (DPI) um dossiê sobre o caso.
Mesmo diante de todas essas irregularidades, a madeira continuou na serraria de Cláudia Mansani. Por determinação do IAP, ela é a fiel depositária do material. Mas o chefe regional do IAP, Luiz Eduardo Araújo, explica que a madeira não poderá ser usada até que a situação seja esclarecida. A Polícia Civil, por sua vez, instaurou inquérito. Entre as acusações que devem ser feitas à filha do prefeito está a prática de crime contra a economia popular, já que sem a emissão de nota fiscal, há sonegação de impostos.
* Leia mais em reportagem de Denise Angelo na Folha do Paraná/Folha de Londrina desta quarta-feira