Paraná

Policiais da Rone matam jovem com tiro na nuca

17 jul 2007 às 09:40

A volta para casa de dois jovens, na área rural de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, depois de um dia inteiro de festa, teve um desfecho trágico. David Maicon dos Santos, 19 anos, levou um tiro na nuca e morreu. Seu primo, Tiago Luiz dos Santos, que, nesta terça-feira, completa 20 anos, atingido de raspão no cotovelo, foi preso. Os disparos partiram de policiais da Ronda Ostensiva de Natureza Especial (Rone), que alegam ter revidado os tiros, durante tentativa de abordagem, no início da madrugada de domingo.

David dos Santos foi enterrado na tarde de segunda-feira. O pai do rapaz, o agricultor Altair Machado dos Santos mostrou revolta com a versão da polícia de que seu filho estaria armado. ''Isso é uma besteira. A polícia é quem arranjou isso. Pegaram a arma e passaram na mão dele'', afirmou.


Visivelmente irritado com a pergunta sobre a arma, Altair dos Santos contou que o filho nunca lhe deu problema. David trabalhava de manhã em uma estufa de cultivo de flores e à tarde o ajudava na roça. ''Ele não tinha tempo para fazer nada de errado'', disse.


Tiago dos Santos foi solto no final da manhã de segunda-feira. Ele disse que estava de moto e seu primo lhe pediu carona ao saírem da Festa do Vinho, que ocorria no final de semana. Como ele não tinha capacete para David, combinou de o apanhar um pouco além da saída da festa e pegaram uma estrada de terra para seguir até a localidade de Ribeirão das Onças.


Segundo Tiago, no percurso ele viu um carro preto parado à margem da estrada, com faróis apagados. Até então, o rapaz afirma que não viu que se tratava de uma viatura policial. Pensou que poderiam ser assaltantes. ''Gritaram alguma coisa, mas não entendi se mandaram parar. Em seguida, já ouvi os disparos'', contou. Tiago diz que percebeu David cair da moto, mas decidiu seguir em frente. ''Se eu paro aqui, eles me matam'', disse o jovem repetindo o que pensou na hora. Poucos metros depois, Tiago resolveu voltar para socorrer o primo.


Uma outra viatura o aguardava e David não estava mais caído na rua. O jovem assegurou que seu primo não tinha arma. ''Ele estava ralando para pagar a moto que comprou. De onde ele ia tirar dinheiro para comprar uma arma? O advogado (que o tirou da delegacia) disse que uma arma dessas (uma pistola calibre 380) custa R$ 2 mil'', relatou Tiago, que só soube da morte do primo na manhã seguinte.


O delegado de Colombo, Hamilton da Paz, informou que os dois não tinham antecedentes criminais. Tiago foi autuado em termo circunstanciado por dirigir a moto sem carteira de habilitação. Um inquérito irá investigar as circunstâncias da morte de David. ''A história é meio conflituosa'', declarou, referindo-se às versões apresentadas por Tiago e pelos policiais. O delegado pediu exame de resíduos das mãos de David (para saber se ele usou uma arma) e perícia da pistola, que estava com a numeração raspada.

De acordo com o chefe da Comunicação da Polícia Militar (PM), tenente-coronel Jorge Costa Filho, os três policiais que participaram da abordagem foram afastados do trabalho nas ruas e responderão a Inquérito Policial Militar (IPM). Ele preferiu não comentar como a abordagem aconteceu. As armas dos policiais, também, serão periciadas.


Continue lendo