Paraná

Polícia: Seguranças chegaram atirando nos sem-terra

23 out 2007 às 10:02

Policiais civis e militares de Cascavel informaram que 25 seguranças particulares da empresa NF, contratados pelo "Movimento de Produtores Rurais" da região (nome do movimento é de fachada, não existe oficialmente), chegaram atirando na tarde de domingo, quando houve o segundo conflito entre os sem-terra e homens armados na fazenda experimental de transgênicos da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste.

O primeiro conflito aconteceu na madrugada de domingo, quando os seguranças foram expulsos pelos sem-terra, sem confronto. Um vídeo entregue pelos trabalhadores sem-terra à Polícia Civil registra o momento da chegada dos atiradores à fazenda. Na madrugada de domingo, a fazenda Syngenta foi reocupada por cerca de 150 homens e mulheres ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).


"Nós já temos fortes indícios de quem fez esta contratação, apesar de os responsáveis tentarem se esconder atrás de um movimento de fachada. Nós não vamos admitir no Paraná a ação de um bando como esse, que promove a violência. Serão todos enquadrados e serão colocados atrás das grades como todo e qualquer bandido", disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari.


O confrontou que matou o líder dos sem-terras Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun, e o segurança Fábio Ferreira de Souza, da empresa NF Segurança, aconteceu no domingo à tarde, quando 25 seguranças armados voltaram ao local para fazer a reintegração de posse "por conta própria".


No tiroteio, ficaram feridos e foram encaminhados ao Hospital Universitário os seguranças Vanderlei Giraldi, Rodrigo Oliveira Ambrósio e Marcelo Victor Stevens, e a integrante do MST Isabel Maria Nascimento Souza. Também receberam atendimento médico os integrantes do MST Adilson Alves Cartin, Jonas Gomes de Queiroz, Gentil Couto Vieira e Udson Alves Cardin.


Sete seguranças continuam presos e foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões, na delegacia de Cascavel. Os sem-terra foram liberados pela polícia. Os demais teriam fugido a pé após o tiroteio. Apesar do silêncio dos sete seguranças presos que se recusaram a prestar depoimento – a polícia já identificou o dono da empresa de segurança NF, que seria Nerci de Freitas.


Segundo o delegado Amadeu Trevisan Araújo, chefe da 15ª Subdivisão Policial, de Cascavel, o dono da empresa deverá confirmar para a polícia os nomes dos verdadeiros mandantes da operação. Além disso, o delegado fará a identificação entre seguranças e trabalhadores sem-terra para que seja apontado o responsável pelas mortes. "Os sem-terra chegaram e os seguranças deixaram o local. Depois, por volta da uma e meia da tarde, os seguranças voltaram e aconteceu o tiroteio", explicou o delegado.


Também nesta segunda-feira, o Governo do Paraná, através da Secretaria da Segurança Pública do Paraná, repudiou as declarações emitidas à imprensa pela presidência da OAB Paraná e também pela seção Cascavel da Ordem dos Advogados do Brasil. Para o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, as declarações demonstram profundo desconhecimento sobre as ações policiais que já cumpriram 172 ordens de reintegração de posse no Paraná.


"Justificar a ação de grupos armados no campo é justificar ação de bandidos que ignoram as leis. Nós não desrespeitamos as leis, tanto é que cumprimos uma média de uma reintegração a cada dez dias sem que uma pessoa morresse no campo. Não toleramos a ação de grupos armados no campo, da mesma maneira que não vamos tolerar que ações de bandidos sejam justificadas levianamente principalmente por aqueles que deveriam zelar pelo cumprimento das leis", disse Delazari.


Para o secretário, "culpar" o governo de omissão e assim justificar a violência exercida por grupos, como o que agiu na fazenda da multinacional Syngenta, é "uma ignorância". "Eles deveriam estar questionando quem contratou este bando para promover a violência, em vez de criar um debate político para se aproveitar do assunto", disse.


A fazenda da multinacional suíça Syngenta fica no cinturão de proteção ecológica do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, no Oeste do Paraná e em julho foi desocupada de forma pacífica pela Secretaria de Segurança e Polícia Militar do Paraná.

AEN


Continue lendo