Paraná

Polícia Civil: maior problema é salarial

06 fev 2001 às 12:32

Os policiais civis acreditam que as principais necessidades de investigadores e escrivães atualmente são dinheiro, realização, condições de trabalho, responsabilidade e segurança. Se não forem considerados os votos em branco e nulos (que equivalem a 27% do total), o índice de policiais que reclamam da falta de dinheiro é de 33%. Os que vivem apenas do soldo de seus salários, dizem que têm que conviver com cortes de luz, água e telefone. "Eles ingressam na polícia pensando em ser um super-herói e se sentem marginalizados. Pelo governo, que paga pouco. E pela sociedade, que os confundem com marginais", destaca a psicóloga Roxane Cassanelli Ratin.

Cem por cento dos entrevistados dizem que para melhorar a instituição seria necessária uma mudança na estrutura dos distritos e delegacias, com repartições adequadas, salas de plantão, cartórios, carceragem, alojamentos, cozinhas e banheiros. Eles pedem ainda que todas as delegacias sejam providas de equipamentos policiais, com móveis compatíveis com o trabalho desempenhado, ramais telefônicos em quantidade suficiente, computadores ligados em rede e rádios transmissores. Todos eles querem também a retirada imediata de presos nos distritos e encaminhamento para o Sistema Penitenciário.


Em relação às chefias, eles pedem que os delegados aprendam a tratar os seus subordinados com respeito, que compreendam as limitações de cada um, sejam líderes responsáveis e promovam reuniões com seus subordinados. "O problema é que os delegados agem como se fossem uma espécie de deus. Isto é prejudicial. Falta diálogo entre chefia e subordinados", avalia a psicóloga. "A maioria dos delegados hoje é visita nas delegacias, são omissos, negligentes e alheios ao movimento dentro do local. Só se mexem se vier cobrança de cima. Do contrário são avestruzes", diz um policial civil.


Psicológico


Dos 206 policiais civis analisados pelas psicólogas, 67% disseram que gostariam de ter atendimento psicossocial. Eles gostariam de falar sobre seus problemas profissionais e pessoais. Os principais pontos que precisariam ser trabalhados, de acordo com a pesquisa, seriam as dificuldades conjugais, sintomas emocionais como depressão, baixa auto-valorização, frustração, fuga do real, abuso de drogas lícitas e ilícitas. "Eles querem ajuda, mas ninguém faz nada. Existe um trabalho psicológico para policiais civis, mas não consegue atender a demanda. Precisamos de investimentos nesta área", declara a psicóloga Roxane Cassanelli Ratin. Ela diz que ficou deprimida e indignada com a situação da Polícia Civil. Num relatório de 57 páginas, ela e a também psicóloga Eliane Bernardelli mostram o problema e fazem sugestões.


Para mudar a atual situação, elas alegam que seria fundamental a implantação da isonomia salarial, contemplando a reposição de perdas no período; melhores condições humanas e adequadas de trabalho; resgate da função do investigador, atualmente atuando indevidamente como agente carcerário; treinamento e cursos de reciclagem para policiais e delegados; programa de avaliação e atendimento periódico do setor psicossocial aos policiais distritais. "Talvez não sejamos atendidos, mas temos que tentar. Por isto fizemos o estudo", afirma.

O estudo será enviado esta semana para o Departamento de Polícia Civil e para a Secretaria de Estado de Segurança Pública. Ontem, a reportagem da Folha entrou em contato com o delegado geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, que não quis comentar o assunto. Ele disse que quer ler o relatório antes de se pronunciar oficialmente.


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