Paraná

Piloto paranaense resistiu a seqüestro em 88

13 set 2001 às 10:33
Para o piloto paranaense Fernando Murilo de Lima e Silva, houve furo no esquema de segurança da aviação americana no caso do sequestro dos aviões que foram usados na série de atentados nos Estados Unidos. Há 13 anos, o avião que Silva pilotava foi sequestrado por um homem que queria atingir o Palácio do Planalto, em Brasília. Mas o comandante resistiu e conseguiu salvar a tripulação.
Silva, 53 anos, está dando aulas em uma escola de aviação em Curitiba há quatro meses. Ele contou que a aeronave sequestrada era da Vasp e tinha saído de Porto Velho (RO) em direção ao Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro de 1988.
O sequestrador, um maranhense com cerca de 30 anos, embarcou na escala feita em Belo Horizonte, quando havia 107 passageiros a bordo. Após 20 minutos, ele começou a forçar a porta da cabine e atingiu com um tiro na orelha o comissário de bordo que tentou impedi-lo. "Ouvi o barulho e passei para a torre em Brasília um código de sequestro, que usamos para avisar a base em situações como essa", contou.
Nessa altura, o sequestrador já tinha arrombado a porta da cabine com cerca de 20 tiros e atingiu a perna de um dos co-pilotos. "Fiquei sob a mira do revólver de um maluco que exigiu que eu mudasse a rota para Brasília. Ele dizia que queria chocar o avião contra o Palácio do Planalto para matar o então presidente José Sarney." Quando o outro co-piloto se abaixou para pegar o microfone para falar com Brasília, o sequestrador voltou a atirar.
O co-piloto foi atingido por um tiro na cabeça e morreu na hora. Silva disse que, mesmo com toda a situação de pânico, conseguiu manter o controle. "Todos os passageiros dependiam de mim naquele momento. Eu tinha que manter o máximo possível de calma."
Ao chegar em Brasília, o comandante enganou o sequestrador dizendo que nuvens impediam enxergar o Palácio do Planalto. Silva conseguiu negociar para que voltassem.
Quando a aeronave estava sobrevoando Goiás, o combustível acabou. "O motor já não estava funcionando e, mesmo assim, ele apontava o revólver e mandava que eu voltasse a Brasília."
Para poder pousar, o comandande fez manobras na aeronave que provocaram o desequilíbrio do sequestrador, que caiu no chão desarmado. O avião pousou no aeroporto de Goiânia.
O comandante ficou quatro horas sob a mira de um revólver no ar e mais duas em terra. "Ele queria reabastecer para seguir viagem e a Força Aérea arrumou outra aeronave." Policiais federais que estavam no outro avião conseguiram prender o sequestrador, que levou um tiro. O comandante também foi atingido na perna.
Silva disse que acompanhou atônito a série de atentados nos EUA. "Acabei me colocando no lugar dos pilotos." Ele calcula que o impacto do choque deve ter sido equivalente a 140 mil toneladas, devido ao peso e a velocidade das aeronaves. A redução a zero da velocidade em curto período de tempo e o tanque cheio de querosene provocaram o impacto de uma explosão atômica.
Ele estranhou que os pilotos não tenham repassado à base o código de sequestro. Silva também disse não entender como até hoje ainda não foi criada uma cabine blindada dentro do avião para evitar esse tipo de ataque.

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