Mesmo representando mais de 15% da população curitibana, os negros são esquecidos nos discursos e políticas públicas. É o que constata uma pesquisa feita pelo sociólogo e antropólogo, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Rodolfo Bodé Moraes.
A população negra e parda soma 197,8 mil do total de habitantes de Curitiba segundo dados do Censo do Institituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1991. "Mesmo assim, criou-se a imagem de que a cidade é formada por etnias européias, ignorando-se por completo a presença importante dos negros", afirma Bodé. Na época da escravidão, os negros chegaram a representar 60% da população curitibana.
Para o professor, a omissão da presença negra é constatada em discursos, políticas públicas e no registro da história da cidade. Ele cita como exemplo o livro adotado no ensino fundamental, "Lições Curitibanas", que lista as etnias que formaram a cidade. "Mais uma vez, os negros foram ignorados."
Bolé lembra que todas as etnias têm monumentos e parques em sua homenagem. "Ninguém sabe onde fica a Praça Zumbi dos Palmares", diz referindo-se ao espaço que lembra o negro, no bairro Pinheirinho, região Sul de Curitiba. Ele conta que um ano atrás, a praça nada mais era que um campo com mato. "Perto das eleições, ela foi cercada", diz.
Para o coordenador do Grupo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR, Nizan Pereira, trata-se de uma política de invisibilização da população negra. "Para o governo admitir a presença do negro, ele tem também que admitir a existência da pobreza na cidade." Toda a propaganda oficial invoca uma capital "branca", formada por alemães, italianos e poloneses.
Para o professor Bolé, essa política é uma forma de exclusão social. "Essa forma de racismo é particularmente perversa, porque nega a presença do negro."