O secretário-executivo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Paraná, Jelson Oliveira, culpou os governos federal e estadual pela morte do líder sem-terra, Sebastião de Maia, o Tiãozinho. Em nota à imprensa, Oliveira protestou que "os milhares de processos de crimes contra os trabalhadores e suas lideranças continuam mofando na burocracia do Poder Judiciário e, pior, pistoleiros e jagunços, policiais e latifundiários, continuam atuando livremente, como atores estratégicos no teatro armamado a céu aberto".
Segundo o secretário da CPT, não foi a primeira vez que a família de Tiãozinho conviveu com a violência no campo. Oliveira disse na nota que a mulher dele já foi torturada por policiais militares. Ele considera que as constantes campanhas para "criminalizar" o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) estão apresentando seus reflexos. Oliveira disse que o assassinato de ontem em Querência do Norte é prova disso.
"Ao desmoralizar e criminalizar o MST, o governo legitima a ação impune de pistoleiros e latifundiários e instauira a perseguição e a violência como medida política para deter a organização dos pobres e impedir que eles tenham acesso à terra, símbolo da concentração e da morte nestes 500 anos de colonização", escreveu Oliveira. O governador Jaime Lerner não foi poupado das críticas. Desde 1995, quando assumiu o governo, a CPT já contabilizou a morte de 16 camponeses ligados ao MST. "Tiãozinho, como era conhecido, é a 16ª vítima deste regime de terror e violência implantado no Paraná sob o comando do truculento governador Jaime Lerner, desde 1995", atacou Oliveira.
Prisão
Três sem-terra foram presos ontem durante duas operações de desocupação de fazendas que eram mantidas sob controle de famílias ligadas ao MST. Cerca de 100 famílias da Fazenda Água Doce e outras 600 da fazenda Decolores, ambas localizadas na região de Londrina, foram retiradas por tropas da Polícia Militar.
De acordo com informações da CPT no Paraná, as famílias despejadas eram remanecentes da Fazenda Tamar, no município de Tamarana. Elas teriam saída da área em maio do ano passado depois de um acordo judicial que previa o assentamento dos sem-terra em outras áreas. Como o Incra não teria cumprido sua parte, segundo a CPT, as famílias invadiram as duas fazendas desocupadas ontem.
Em nota oficial, a CPT disse que o governador Jaime Lerner apenas esperou o término das eleições para autorizar as desocupações. "Passadas as eleições municipais, quando o governador Jaime Lerner foi o grande derrotado nas principais cidades do Paraná, a estratégia de violência contra o sem-terra tem continuidade", destaca o comunicado.