Mais de 100 anos de convivência entre judeus e muçulmanos no Brasil tornaram as guerras que assolam principalmente os países do Oriente Médio, um assunto distante e pouco polêmico em nosso País. Tanto que enquanto o presidente George W. Bush dá um ultimato ao mundo, rotulando-o entre países que apóiam os Estados Unidos e, consequentemente, as ações que venham a tomar contra os países árabes, e aqueles que "estão com os terroristas", descendentes de árabes e judeus sentam-se lado a lado, em frente às televisões nos fundos de casas de comércio de Curitiba para acompanhar o desenlace do atentado terrorista contra o World Trade Center, em Nova York.
E não podia ser diferente. No centro da Capital, é antiga a paisagem de lojinhas coladas uma na outra, quase sempre de propriedade de judeus e de árabes. Apesar da fama de mãos-fechadas e bons negociadores, neste tempo, nem mesmo a disputa pelos fregueses conseguiu separar as duas raças. É o que diz o presidente da Federação Israelita do Paraná, Simão Blinder, que desconhece qualquer incidente entre os dois lados nestes cem anos de colonização.
"Nossa convivência é pacífica. Tenho laços de amizade e comerciais muito fortes com os judeus", diz Ali Omari, 29 anos, casado e pai de três filhos, que trabalha com o irmão na loja Super Ofertão, na praça Generoso Marques. Filho libanês, que veio ao Brasil com 19 anos de idade e uma brasileira, ele segue a religião muçulmana, também chamada de islâmica.
Seu vizinho, Samuel Greenbaum, 78 anos, proprietário da Samuca Modas, situada do outro lado da rua, confirma esta amizade. "Nós temos um relacionamento maravilhoso, nunca tive problemas", diz. Natural da Polônia, de onde saiu junto com os pais e três irmãos após a 2ª Guerra Mundial, acredita que o segredo para viver bem é "seguir o que manda a vida: ser honesto, não enganar e nem deixar ser enganado".
Aproximadamente 120 mil judeus vivem no Brasil, de acordo com a Federação Israelita do Paraná. A maioria concentra-se em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e, em quarto lugar, Curitiba, onde a comunidade abrange cerca de 4 mil pessoas. A maioria é proveniente do leste europeu, principalmente Polônia, Ucrânia e Rússia.
Os descendentes dos 23 países árabes são aproximadamente 1,5 milhão no Brasil -número pequeno se comparado aos Estados Unidos, onde vivem cerca de 10 milhões. No Paraná, a comunidade gira em torno de 30 a 40 mil, sendo 15 mil em Foz do Iguaçu e 5 mil em Curitiba. Entre estes, há seguidores da religião muçulmana, católicos e até mesmo uma minoria de judeus árabes.
Chamados também de forma errada de "turcos" -porque os primeiros imigrantes chegaram ao País com passaporte da Turquia, fornecido pelo Império Otomano que tomava conta da região- os árabes existentes no País são em sua maioria sírios, libaneses e palestinos, segundo o diretor da Sociedade Beneficiente Muçulmana do Paraná, Kamel Mansur.