Paraná

Paraná registra 40 estupros por mês

22 nov 2000 às 10:59

De janeiro a setembro deste ano foram registrados 367 casos de estupro no Paraná. São três ocorrências a cada dois dias, numa média de 40 casos por mês. Os dados, no entanto, ainda não podem ser considerados reais. A estimativa é a de que 60% das mulheres não procuram auxílio da polícia. Os dados são da Polícia Militar - que faz o primeiro atendimento da ocorrência, antes mesmo da abertura de qualquer tipo de procedimento investigativo pela Polícia Civil. Foram 141 casos em em Curitiba e região metropolitana e 226 no interior do Estado.

Levantamento feito pela Polícia Civil demonstra que somente em Curitiba, nesse mesmo período, foram 94 estupros. O índice corresponde a abertura de inquéritos policiais envolvendo uma média dez mulheres vítimas de estupro por mês.


Muitas ocorrências não chegam ao conhecimento da polícia. "Geralmente os casos que deixam de ser delatados, são aqueles que envolvem pessoas conhecidas, como vizinhos, namorados ou parentes", explicou o psiquiatra Salmo Zugman, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.


Muitas vezes, as mulheres deixam de relatar as ocorrências por vergonha ou medo de rejeição perante à sociedade. "Quem é estuprado teme danos à sua imagem, teme tornar as coisas ainda piores. Teme cair na vergonha pública. Por esta razão, apenas vemos nos noticiários os estupros que envolvem maníacos. Mas a maioria acontece com pessoas já conhecidas", contou o psiquiatra.


As consequências psicólogicas deste tipo de agressão podem trazer transtornos para toda a vida. Uma das mais comuns é o estresse pós-traumático. Os reflexos podem ser pesadelos constantes, lembranças rotineiras, sobressaltos, prejuízos nos relacionamentos e depressão. "Para superar, a pessoa tem que saber primeiramente que ela não é a responsável pelo estupro ter ocorrido, ela foi a vítima", salientou.


O coronel Darci Dalmas, comandante do Policiamento da Capital, disse que este tipo de agressão é cometido principalmente contra pessoas do sexo feminino e entre a faixa etária dos 13 e 25 anos. De acordo com ele, não existe um trabalho preventivo que as pessoas possam fazer para evitar este tipo de crime, mas alguns cuidados podem ser fundamentais. Entre eles, evitar a aproximação com pessoas estranhas, os locais ermos e escuros. Para evitar os estupros de crianças, que também ocorrem com regularidade, ele alertou para que os pais tenham atenção redobrada com os filhos.


Vingança


Por ser considerado crime hediondo, os acusados de estupro são perseguidos pelos próprios detentos em distritos e delegacias. Não são raros os casos de tentativa de linchamento e crimes por vingança. No final do ano passado, o motorista de ônibus Luiz Frazão, 41 anos, resolveu montar um grupo de extermínio para matar três pessoas que supostamente estariam envolvidas no estupro de sua filha e de uma amiga dela em Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba). O grupo assassinou Paulo César Pires, 18 anos, e Adailton dos Santos, 18 - que teriam estuprado as meninas - além do aposentado José Manoel dos Santos, 65, que teria tentado impedir a ação.


O crime foi cometido depois de a polícia ter identificado os supostos estupradores, sem prendê-los efetivamente. Frazão disse, na oportunidade, que a situação chegou a um estado de tamanha tensão, que ele preferiu fazer "justiça" com as próprias mãos. Ele e Alexandre Batista, 21, - namorado de uma das meninas estupradas - foram presos pelo assassinato.

Outro caso quase terminou em tragédia. Também no final do ano passado, o jardineiro Reni Antunes de Camargo, 34 anos, foi preso na Vila Perdiz, em Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), depois de ser reconhecido por três vítimas. Ele confessou os crimes, inclusive o estupro de uma adolescente de 16 anos.


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