Era quase meio-dia quando a dona de casa Maria Aparecida da Silva, apareceu, na quinta-feira que passou, na horta comunitária da comunidade da capela Santa Rita de Cássia, no populoso Bairro Renato Bonilauri, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Sem falar com ninguém, começou a jogar terra preta em volta da rúcula e alfaces plantados. ''Fiquei sabendo sábado que dava para vir aqui ajudar'', diz ela, ao mesmo tempo em que lamenta não haver mais pessoas trabalhando. ''Umas dez mulheres iam fazer isso ir para frente rapidinho.''
Maria, 45 anos, e a filha de 17 anos, sustentam a casa. Juntas, recebem R$ 75,00 por semana na costura de 50 bolas de futebol para uma empresa. O dinheiro sustenta o marido desempregado, um filho excepcional de 23 anos e dois sobrinhos, de 9 e 13 anos. ''Quando a horta começar a produzir, será bom porque vamos economizar com verduras'', diz.
Envolver a população em um trabalho comunitário e garantir alimento de qualidade a preços bem abaixo do mercado são apenas alguns dos objetivos do grupo que idealizou a horta. ''Conseguimos um terreno na prefeitura para construir a capela e, como havia uma área livre, a comunidade quis desenvolver um projeto social'', conta o padre José Paulo Gatti.
Como muitos já tinham experiência de plantio, adquirida em roças do interior do Estado, a idéia da horta comunitária veio em seguida. Empresários locais doaram terra, tijolos, manilhas, cimento. Cerca de 15 famílias asumiram a frente dos trabalhos, embora com tempo reduzido. ''A maioria vem só nos finais de semana'', diz o pintor Humberto Maximiniano, um dos coordenadores do projeto.
Em três meses, foram construídos 11 dos 40 canteiros previstos no local. Além de rúcula e alface, foram plantadas cebolinha, salsinha e beterraba. Há ainda um espaço com ervas medicinais.
Luiz Antonio Sypriano, filósofo, com experiência em educação popular e economia solidária, e membro da equipe de educadores da organização não-governamental (ONG) Associação Difusora de Treinamento e Projetos Pedagógicos (Aditepp) ressalta o histórico da comunidade. O Bairro Renato Bonilauri abriga cerca de 700 famílias retiradas de áreas em beira de rio, suscetíveis a enchentes, e transferidas para casas de 18 metros quadrados no local.
A renda média das famílias é estimada em no máximo R$ 400,00. ''Quando eles têm renda, porque muitos estão desempregados'', repara a professora e moradora do bairro Wanelli de Fátima Sakovicz que, sempre que pode, trabalha na horta.
O grupo tem mais idéias para incrementar a vida dos moradores locais. Eles estão pleiteando junto à Prefeitura de Pinhais e ao Conselho Municipal de Segurança a reabertura de um espaço municipal ao lado da igreja, onde existe um barracão grande e uma casa com equipamentos que antigamente eram usados para ensinar artesanato em vime a menores de idade. ''Queremos reativar o trabalho com o vime, plantar o produto aqui e fazer projetos, como aulas de capoeira, artesanato e atividades esportivas'', diz Wanelli.
Além de gerar renda para as famílias, a idéia é retirar os adolescentes das ruas. Segundo Airton Granada Martins, outro coordenador do projeto, só o envolvimento com a igreja e os três meses de trabalho com a horta já mudaram a vida de seu filho, de 17 anos, e outros três amigos. ''Eles viviam nas esquinas. Agora meu filho toca bateria na capela, ajuda na horta. Tem que achar atividade para esta moçada'', diz.
Serviço:
Aditepp - Associação Difusora de Treinamentos e Projetos Pedagógicos
Rua Desembargador Westphalen, 1.373 - Curitiba -PR - CEP: 80.230-100
Fones: (41-00-225-2514)
www.tiptepp.com.br