Paraná

No campo, a segurança está nas mãos dos agricultores

26 jun 2004 às 00:49
Que a vida rural está mudando todos sabem. Conforto e comodidades da cidade foram levados aos habitantes do campo que hoje vivem em casas superequipadas. O coador de pano deu lugar à cafeteira elétrica e antenas parabólicas são vistas em grande número de residências. Até produção agrícola é controlada por computadores.
Mas a modernidade não estimula somente o desenvolvimento da propriedade rural. A criminalidade parece crescer na mesma proporção das conquistas do agricultor. E isso tem preocupado os produtores. Prova disso foi a doação, esta semana, de um veículo à Polícia Militar (PM) de Mamborê (36 km ao sul de Campo Mourão) pelo Sindicato Rural do município. ''Com a Patrulha Rural, os ladrões vão pensar duas vezes antes de entrar nas propriedades'', declarou o presidente do sindicato, Erasmo Coutinho Machado.
Recursos Os recursos para a aquisição do veículo vieram das contribuições sindicais dos 215 associados. Segundo o secretário do Sindicato Rural, James Correia, a caminhonete foi comprada diretamente da fábrica e custou cerca de R$ 70 mil. ''Como no município, a PM não possuía um veículo próprio para o meio rural, resolvemos fazer a doação'', disse.
A manutenção e o combustível ficarão por conta da PM. De acordo com o major Ronaldo Antônio Maciel de Oliveira, comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar de Campo Mourão, a nova viatura será de uso exclusivo de Mamborê. ''Apenas 12 dos 24 municípios de abrangência do 11º BPM têm viaturas compatíveis às estradas rurais'', contabilizou Oliveira, lembrando que esta foi uma iniciativa inédita de um sindicato paranaense.
Corrente no portão Relatos de assaltos e pequenos furtos, nos últimos meses, são inúmeros. O próprio presidente do sindicato é um dos agricultores da região que tiveram sua propriedade invadida por assaltantes. ''Eles eram quatro e acabaram presos sem levar nada'', contou. Na fazenda de 100 alqueires, Machado cria gado e planta soja. Para proteger os maquinários, instalou sensores nos três barracões, na sede e nas casas dos dois filhos que também moram na propriedade. ''Os alarmes custaram cerca de R$ 4 mil e ainda conto com dois seguranças particulares que fazem a ronda da fazenda durante a noite'', explicou.
Segundo o produtor, em época de plantio aumentam os roubos de agrotóxicos nas fazendas. ''Isso acontece porque muitos agricultores ainda preferem armazenar os produtos nos sítios ao invés de guardá-los na cooperativa, onde é mais seguro'', afirmou.
Cada caixa com 50 litros de agrotóxico pode custar até R$ 2 mil. De acordo com Machado, os assaltantes roubam os produtos, vendem para atravessadores em outras cidades, que por sua vez, revendem o produto. ''Só não sei quem se sujeita a comprar uma mercadoria desta natureza sem nota fiscal'', complementou.
O agricultor Jair Alves Ferreira já perdeu dois tratores, um deles furtado à noite do barracão, enquanto a família dormia na sede. ''Eles envenenaram os cachorros para que parassem de fazer barulho e nós não escutamos nada'', lembrou.
O segundo furto foi mais estratégico, segundo Ferreira. A quadrilha desengatou o trator, empurrou-o a mil metros do barracão, onde um caminhão esperava para transportar o maquinário. ''No dia seguinte vimos apenas os rastros'', lamentou. Em nenhum dos casos as máquinas foram recuperadas e as perdas giraram em torno de R$ 35 mil para cada trator.
Prevenção ''A viatura doada à PM é apenas uma ferramenta de prevenção contra o crime'', afirmou o sargento Mário da Silva, comandante da Polícia Militar de Mamborê.
Ele explica que em comparação com a região, o município não apresenta um grande número de incidências criminais na zona rural. ''Este ano foram apenas duas ocorrências registradas pela PM'', assinalou o sargento.
Segundo o comandante do 11º BPM de Campo Mourão, major Oliveira, os crimes na área rural são cíclicos e normalmente as quadrilhas são desmascaradas. ''Na região de Campo Mourão, o índice de roubo de agrotóxicos é zero. As quadrilhas costumam roubar mais maquinários e gado'', apontou. Segundo agricultores a prática é comum.
Já nos municípios mais próximos a Goioerê, o roubo de gado é frequente. ''Pequenas quadrilhas roubam os bois, abatem e vendem para os açougues de forma clandestina'', ressaltou.
Para furtar tratores e colheitadeiras, as ações requerem rapidez e conhecimento das máquinas. ''Com patrulhas rurais mais organizadas será possível prevenir o crime antes de ter de remediá-lo'', finalizou Oliveira.

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