As ocupações de fazendas em todo o País por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) irão continuar nos primeiros anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Apesar do apoio dado pelo MST à candidatura de Lula à presidência, um dos coordenadores nacionais do movimento, João Pedro Stédile, afirmou nesta quarta-feira em Curitiba que as ocupações são uma maneira da sociedade dar sinais ao governo das necessidades de cada região.
Stédile esteve na Capital como parte das atividades anuais realizadas pelo MST na semana que antecede o dia 17 de abril, data em que 21 trabalhadores sem-terra foram mortos em um confronto com a polícia em Eldorados do Carajás, no Pará.
De acordo com Stédile, o objetivo das atividades realizadas em diversas capitais é mostrar a população urbana os problemas causados por latifúndios improdutivos no País.
''A eleição de Lula é um divisor de águas. É a mudança de um governo que combatia os movimentos sociais para um que entende que esses movimentos são a melhor maneira de dialogar com a sociedade organizada'', comentou Stédile.
Para ele, a simples mudança de governo já trouxe efeitos práticos na luta do MST pela reforma agrária.
Segundo Stédile, a afirmação de que fazendeiros estariam contratando homens armados no oeste do Paraná para protegerem suas propriedades, reunidos sob a sigla de Primeiro Comando Rural (PCR), é um reflexo do que ele acredita que será a política agrária do Brasil.
''Não é de estranhar a reação dos fazendeiros, pois o latifúndio em si já é uma violência, no caso, social. As regiões do Brasil que concentram os latifúndios apresentam os piores indicadores sociais.
Esse PCR é apenas uma tentativa de intimidação, que mostra o desejo dos fazendeiros de garantir um poder ao qual eles não têm direito através da força'', analisou Stédile.
Para o dirigente do MST, as ocupações continuarão ocorrendo enquanto houver famílias sem-terra. ''Quem pensa que a gente senta em São Paulo e discute quais terras serão invadidas como quem prepara a organização de uma festa junina está equivocado.
O que acontece é que se numa mesma região encontram-se trabalhadores sem-terra passando fome e latifúndios improdutivos, a ocupação é inevitável. Na verdade, a função do MST é benéfica, no sentido de que ela evita que esses conflitos degenerem em violência'', ressaltou.
Nesta quarta-feira, 80 famílias de trabalhadores sem-terra desocuparam uma área em Lindoeste (45 km de Cascavel). A retirada das famílias foi coordenda pela Comissão Especial de Mediação das Questões de Terra do governo estadual.
As famílias encontravam-se na propriedade do ex-deputado estadual Edi Siliprandi desde o dia 5 de abril. Os sem-terra foram orientados a deixar o local após Siliprandi obter um mandado de reintegração de posse da área.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já havia emitido um laudo afirmando que a propriedade não poderia ser considerada improdutiva.