Paraná

Mexicano tenta trazer tourada ao Brasil

16 fev 2001 às 10:51

O maior sonho do mexicano Fernando Rodriguez é encontrar um brasileiro que se interesse em ser seu sócio na realização de touradas no Brasil. Ele já expôs seus planos a um empresário de São Paulo, um fazendeiro do Paraná e hoje deverá conversar com Beto Carrero, dono de parque temático homônimo na praia de Penha, em Santa Catarina. Há dois meses em Curitiba, no entanto, a única coisa que ele conseguiu até agora foi a inimizade dos defensores do meio ambiente.

Rodriguez garante que não pretende adotar a tourada espanhola, na qual o touro é morto no final, mas sim o modelo português. Neste, o toureiro só "dribla" o animal, com uma capa. "Seria um espetáculo bonito, onde o touro sairia de um cercado, enfrentaria o toureiro e depois voltaria para seu lugar, sem ser machucado", diz.


Sua explicação, no entanto, não convence os ambientalistas. Eles têm em mãos dois instrumentos: a lei 9.695/98, que regulamenta os crimes ambientais e prevê detenção de três meses a um ano e multa em casos de maus tratos; e a Declaração Internacional dos Direitos dos Animais, da qual o Brasil é signatário, e que proíbe o uso de animais para fins de diversão. "Com ou sem sacrifício do animal, realizar as touradas no Brasil seria apenas um espetáculo desnecessário", diz o biólogo Tiaraju de Mesquita Fialho, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS).


Lídia Lucaski, da Associação do Meio Ambiente de Araucária (Amar), que se diz contra o uso de animais até mesmo em publicidade, é ainda mais enfática. "Aqui ele vai encontrar encrenca. O brasileiro recebe os estrangeiros de braços abertos, mas não vamos aceitar banditismo e, se preciso, vamos tentar até expulsá-lo do território nacional", adverte.


Para Fialho, mesmo quando há uma identidade cultural, como no caso das touradas na Espanha e México ou a farra do boi entre os açoreanos em Florianópolis (SC), essas atividades são condenáveis. "A humanidade tem que dar um passo à frente e evoluir. Não dá mais para aceitar que as pessoas se divirtam às custas do sofrimento dos animais", diz Lídia.


Há três anos a Amar obteve liminar na Justiça contra a realização de rodeios em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba. Para conseguir a proibição, ela provou que os animais eram maltratados de diversas formas, principalmente pelo uso de um equipamento chamado séden ou burriqueira - uma corda amarrada em suas genitálias.


Além dos rodeios, os ambientalistas também mantêm os olhos vigilantes para outros tipos de abusos contra os animais. É o caso das brigas de galo, de canários e, mais recentemente, os confrontos entre cães. "O que mais recebemos são denúncias sobre rinhas de galo", diz o investigador José Cesar Bittencourt, da Delegacia de Proteção do Meio Ambiente de Curitiba. No ano passado, a delegacia fechou uma rinha com cerca de 20 galos de briga em Ponta Grossa. Só em caso de reincidência é que os envolvidos responderão a inquérito policial.


"Já matei 1,5 mil touros"


Fernando Rodriguez, 52 anos, começou a se aventurar nas arenas na cidade do México, quando tinha 13 anos. Com uma bagagem de 39 anos realizando touradas, apresentações para platéias com até 100 mil pessoas e "pelo menos 1,5 mil touros mortos", para ele, longe de ser uma atividade cruel para os animais, a tourada não passa de um grande espetáculo.


"Matar o touro é o grande objetivo do toureiro", diz, ressaltando que o clima da tourada começa quando o profissional está se preparando. "No momento de se vestir, o toureiro já começa a sentir medo. Na arena, os dois estão lá, frente a frente, e aí ou o toureiro mata o touro ou vice-versa. E dá uma satisfação muito grande quando a gente mata o touro, corta as suas orelhas e é carregado nos ombros pela multidão", conta.


Visitante constante do Brasil desde 1968, quando conheceu a mulher, já falecida, sempre sonhou em trazer as touradas para o Brasil. Ele conta que o município de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, já foi palco de uma apresentação sua, em 1978. "O estádio de futebol lotou e o povo gostou", garante.

Ele calcula que serão necessários investimentos de cerca de U$S 25 mil para seu empreendimento. Ele necessita de uma arena de 30 metros de diâmetro, arquibancadas, além de área para a manutenção dos animais. Outra preocupação é a escolha dos touros. Como o Brasil não possui a raça miura, usada na Espanha e México, ele teria de estudar as possibilidades com as espécies zebu e charolês, mais comuns no País.


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