A Secretaria de Estado da Saúde, através da Coordenação Estadual do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids, está promovendo uma política de redução de danos entre usuários de drogas nos municípios em que os casos de aids são crescentes. A política envolve a prevenção, conscientização de comunidades carentes e locais onde existe o consumo de drogas, tratamento psicológico e distribuição dos chamados "kits de redução de danos". Nos kits, os usuários têm acesso a seringas novas para evitar que a mesma seringa seja compartilhada por um grupo de pessoas.
Apesar das discussões nacionais em torno da proposta, existem projetos já em andamento nas cidades da Lapa, Londrina, Cascavel, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa. Cerca de 60 voluntários trabalham com o preparo de comunidades e distribuição dos kits para usuários. "O kit é o último artigo que entra dentro da comunidade trabalhada. Primeiro falamos de prevenção, mostramos os cuidados que os usuários precisam tomar com a saúde. Fazemos a ponte entre o usuário e o serviço de sapude", afirmou Maria Cristina Gil, coordenadora do departamento.
Dados estatísticos mostraram que no Paraná, 20% dos casos notificados de HIV foram contraídos por causa do compartilhamento de seringas. "Temos que trabalhar para diminuir estes índices", disse a coordenadora. Os chamados "kits de redução de danos" já estão sendo distribuídos também para homossexuais e travestis em Curitiba. O presidente do Grupo Dignidade, Toni Reis, contou que são entregues preservativos, seringas e panfletos educativos para evitar a propagação da aids. "Temos que tomar todas as providências possíveis para impedir que a aids se prolifere. Os usuários de drogas são considerados como grupos de risco. Se não podemos tirá-los do vício, temos que fazer com que eles se previnam", orientou Reis.
Mas na área da segurança pública, a distribuição dos kits ainda é polêmica. Por esta razão, técnicos da Secretaria de Estado de Saúde e policiais civis e militares estiveram reunidos em Curitiba para debater o problema. Os policiais tiveram palestras e foram orientados a não interferirem diretamente nas áreas onde o trabalho de prevenção contra a aids exista.
O delegado Gilson Garret, que atua em Londrina, disse que o projeto é polêmico e interfere diretamente no trabalho policial já que o uso de drogas é considerado como crime. "É difícil para nós sabermos quem está trabalhando na distribuição de kits e quem é viciado. Eu particularmente vejo isto com muita restrição", afirmou o delegado. Para ele, o mais importante seria investir no combate ao uso de drogas. "Acho que agir pensando em previnir apenas a aids é estar reconhecendo a falência do Estado", considerou.
Maria Cristina Gil discorda. Ela lembrou que projetos de lei já estão sendo analisados no Congresso Nacional para rever a criminalização do uso de drogas. "Temos que deixar claro que nosso contato não é com o traficante, é com o usuário. É claro que achamos que o tráfico precisa ser controlado. Mas não podemos deixar o usuário convivendo com dois riscos. O de morrer e o de adquirir aids", complementou.