As 300 famílias (segundo os invasores) que ocuparam uma área com cerca de 48,4 mil metros quadrados no dia 27 de outubro, no bairro Pinheirinho, em Curitiba, começam a construir hoje as primeiras casas de madeira no local. Após quatro tentativas de desocupação da área pela Polícia Militar, as famílias acreditam em uma negociação com as autoridades para se instalarem definitivamente.
Em uma área próxima dali, no bairro Tatuquara, na divisa com Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, outro grupo de 300 famílias invadiu no último sábado uma área de 72 mil metros quadrados. Atualmente cerca de 30 mil pessoas moram em áreas invadidas na Capital.
As duas invasões recentes têm em comum o déficit habitacional do município. Dados da Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab-CT) indicam que 60 mil famílias esperam ser chamadas para receberem suas casas. Para o próximo ano está previsto um investimento de R$ 98 milhões na área e a entrega de mais 9,3 mil unidades.
Em ambas as invasões os proprietários das áreas entraram na Justiça com ação de reintegração de posse e aguardam liminar para reaver seus imóveis. Segundo Ormandi Ribeiro de Castro, 53 anos, que se intitula proprietário da área invadida no Tatuquara, o lugar era usado para criar animais. "Não havia nenhuma habitação quando cheguei em 1983", afirmou. Essa área porém foi reclamada na Justiça pelo advogado Mozer França.
Para Ademar Figueira Maurício, 44 anos, a única saída para conseguir uma casa que pudesse pagar foi invadir o terreno no Tatuquara. "Recebo R$ 400,00 carregando caixas na Ceasa e com essa renda fico sem condições de pagar as despesas de casa", disse Maurício, que paga R$ 100,00 de aluguel para morar com a mulher e cinco filhos.
Segundo a assessoria da Prefeitura de Curitiba, o terreno no Tatuquara inclui um bosque de área nativa cadastrado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e fundos de vale. "Há informações de que os ocupantes estão cortando árvores e ateando fogo na vegetação", afirmou o prefeito em exercício, João Cláudio Derosso. Na área invadida não foi constatada nenhuma queimada ou corte de vegetação.
No Pinheirinho, a preocupação dos novos moradores é com a violência praticada pela polícia. "Não queremos nada de graça, mas sim uma negociação em que possamos pagar uma parcela que tenhamos condições. Estamos no local pacificamente e queremos conversar com algum representante da Cohab ou da prefeitura", disse Paulo Pimentel de Oliveira, 25 anos.