Os estudantes índios aprovados no primeiro vestibular específico à comunidade, realizado há um ano, não estão recebendo bolsas de estudo previstas em lei. Eles criticam ainda o entrave no repasse de R$ 100 mil para auxílio universitário. Lideranças e estudantes - incluindo os aprovados no concurso deste ano - pretendem criar uma associação composta por profissionais indígenas.
Os problemas foram discutidos por alunos de diversas instituições do Estado durante o vestibular realizado no último final de semana na Universidade Estadual de Londrina (UEL). O caingangue Ivan Bridi-Bridi Rodrigues, 27 anos, estudante de direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM), participou da reunião juntamente com o irmão, Sérgio Kuitá, 25, aluno de agronomia na Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Ambos estão com dificuldades para continuar estudando porque as bolsas de R$ 250,00 não são repassadas. ''Recebi a última dia 25 de setembro do ano passado e ainda com atraso. A anterior chegou em 11 de agosto'', disse Rodrigues.
Parte dos recursos do auxílio sai da União, que previu para o orçamento deste ano verba específica para fiscalização de terras indígenas (R$ 6 milhões), capacitação de professores que lecionam em aldeias (R$ 310 mil) e ainda a manutenção de Casas de Estudantes Indígenas (R$ 400 mil). O dinheiro foi disponibizado por meio Fundo de Combate à Pobreza.
A responsabilidade do governo do Estado ficou por conta das bolsas. Uma emenda a uma lei estadual destina R$ 100 mil para ''auxílio de bolsa para estudantes indígenas no 3º grau''. O documento ainda especifica o destino dos recursos: ''para comunidades caingangue, guarani e xetá''.
Segundo o coordenador da Assessoria de Assuntos Indígenas, Edívio Batistelli, foi solicitado em caráter emergencial o encaminhamento de parte dos recursos. ''Como o novo governo está analisando as contas assumidas, pedimos a liberação de pelo menos 10% do total'', explicou Batistelli, destacando que após a regularização, o valor da bolsa ''deve chegar aos R$ 300,00''.
A reportagem contactou a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e foi informada que parte das bolsas já havia sido repassada às universidades. Com o compromisso desse repasse, a Universidade Estadual de Londrina (UEL) já se adiantou e, segundo o chefe da Coordenadoria de Assuntos de Ensino de Graduação (CAE), Jairo Queiroz Pacheco, pagou, na semana passada, os seus três estudantes indígenas. Cada um recebeu R$ 250,00.
O resultado do 2º Vestibular Indígena - em que 57 índios disputaram 18 vagas (três em cada universidade estadual) - será divulgado nesta sexta-feira. Caso todas as vagas sejam ocupadas, subirá para 28 o número de universitários. Dos aprovados em 2002, oito desistiram do curso. Os principais motivos seriam as dificuldades financeiras e a suposta diferença entre o nível de aprendizagem dos índios em relação ao demais estudantes.