Cerca de 15 lideranças indígenas brasileiros reuniram-se nesta quarta-feira pela manhã para avaliar as dificuldades de participação deles na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8).
"É muito importante o Brasil sediar uma conferência sobre biodiversidade. Mas nós, os povos indígenas – que somos os provedores dessa riqueza – não conseguimos participar das decisões", afirmou uma liderança da etnia Yawanawá, do Acre, Manuel Roque de Souza.
"A gente vai procurar os documentos [relatórios e informes de acompanhamento dos grupos de trabalho e eventos paralelos] e eles estão todos em língua estrangeira [na maioria das vezes, apenas em inglês]", reclamou Souza. "Nós somos os anfitriões, mas não há nada em Português. Eu me sinto estranho no meu próprio país."
"As poucas opiniões que a gente coloca, são ignoradas", apontou Lúcia Fernanda Kaingang, diretora-executiva do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi). "Na aldeia, a reunião não tem hora para acabar, só termina quando todos falam tudo que quiserem. Aqui, quando conseguimos a palavra, somos logos cortados."
Fernanda levantou ainda a sugestão de que os indígenas brasileiros não se posicionem e relação ao regime internacional de acesso a recursos genéticos e aos benefícios compartilhados. "Esse tema é muito importante para nós, mas a gente não discutiu em todas as aldeias, não tivemos informações para levar a todos os parentes".
David Ainsworth, porta-voz do secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), explicou que os indígenas participantes da COP-8 estão representados pelo Fórum Indígena Internacional sobre Biodiversidade. "Eles discutem e apresentam recomendações às partes [países signatários] , que decidem se elas serão ou não acatadas", revelou. "Estamos discutindo aqui também financiamento para capacitar os povos indígenas, de forma que eles possam participar melhor da próxima COP."