As florestas originais de araucária que existiam no Paraná já foram dizimadas em 99,2%, ou, quase a totalidade. A conclusão é de um mapeamento feito pela Fundação de Pesquisas Florestais (Funpef), da Universidade Federal do Paraná. Antes deste levantamento, acreditava-se que, pelo menos, 1% das florestas estavam intocadas.
"Trabalhos anteriores já mostraram essa involução do pinheiro no Paraná e essa é mais uma repetição de uma autópsia, que mostra que o morto está cada vez maior", afirmou José Álvaro da Silva Carneiro, da Liga Ambiental, entidade de defesa do meio ambiente.
Para ele, a situação é ainda mais crítica se considerarmos que apesar da araucária ser a espécie mais ameaçada de extinção em toda a América do Sul, apenas 0,08% das espécies no Estado estão realmente protegidas em Unidades de Conservação Direta do Estado.
O engenheiro agrônomo Paulo Roberto Castella, coordenador geral do projeto, não vê o quadro de forma tão negativa. "A situação é melhor do que eu esperava. Apesar de ter apenas 0,08% do que chamamos de florestas em estágio avançado, temos 14% em estágio médio. Isso significa que, com uma política de conservação, estas áreas poderão chegar a um estágio avançado". Para isso, ele calcula que seriam necessários pelo menos 20 anos de ação da natureza, associada a uma política pública de destinação de recursos financeiros e humanos, equipamentos e fiscalização.
"Do que antes era uma floresta contínua, apenas interrompida por campos naturais, atualmente encontra-se bastante fragmentada nos três planaltos da região meridional do Estado", diz o biólogo Ricardo Miranda de Britez, um dos responsáveis pelo mapeamento da vegetação.
O atual estágio de degradação do bioma, segundo ele, é resultado de um processo histórico de ocupação de terras e incentivo ao desmatamento para expansão da fronteira agrícola, além de aspectos culturais. Assim, os poucos remanescentes das araucárias estão em franco processo de desaparecimento e o que resta encontra-se fragmentado.
"Esse processo propicia além da perda de habitat o isolamento das populações, causando uma redução da diversidade biológica e um empobrecimento genético. A situação se agrava devido a falta de áreas protegidas de uso direto e indireto na região de ocorrência do bioma", conclui a pesquisa.
A região Centro-Sul do Estado, nas cidades de Palmas, Guarapuava, Turvo e União da Vitória, apresenta a maior quantidade de remanescentes e também as maiores áreas contíguas. Em muitas áreas a cobertura florestal é quase inexistente, com pequenos fragmentos bastante degradados.