Cinquenta e seis por cento dos infratores de trânsito de Curitiba apresentam quadro de dependência química. Outros 24%, considerados ''abusadores'', usam álcool ou outras drogas com regularidade e os 20% restantes são usuários eventuais. Esse é o perfil de aproximadamente 200 indiciados que respondem a processo junto às três varas de Delitos de Trânsito da Capital. O levantamento foi realizado pela Comissão de Trânsito do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-08) num trabalho em parceria com a Justiça.
O projeto, pioneiro no País, quer ajudar a reduzir o número de acidentes envolvendo motoristas alcoolizados ou drogados, encaminhando-os para orientação e tratamento psicológico. Cerca de 90% dos condutores infratores são indiciados por uso de álcool ou outras drogas de efeito análogo - crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro. De outubro de 2002 até junho deste ano, cerca de 200 pessoas foram atendidas pelo projeto.
A psicóloga especialista em trânsito e coordenadora do projeto, Márcia Plonka, explica que quando os indiciados por uso de álcool ou drogas chegam nas varas, o juiz indica o atendimento psicológico, que é opcional. O grupo de psicólogos voluntários que atua no projeto não chegou a quantificar o percentual de infratores que aceitam o trabalho, mas, segundo Márcia, a maioria acaba participando por já estar numa situação limítrofe.
Dos 56% considerados dependentes químicos segundo a avaliação dos psicólogos, muitos têm dependência cruzada de álcool com outras drogas como cocaína, maconha ou medicamentos e a maioria já responde a vários processos.
Na avaliação, os psicólogos detectam a relação do indiciado com o álcool: uso, abuso ou dependência. Os enquadrados como usuários esporádicos são liberados após o treinamento de sensibilização, que trabalha basicamente com a incompatibilidade entre beber e dirigir. Os caracterizados como abuso ou dependência, seguem para a orientação psicológica. Nessa fase, os profissionais identificam se a pessoa tem potencial para tratamento e qual é mais indicado para o caso que pode ser internação, tratamento ambulatorial, psicoterapia ou encaminhamento para grupos de auto-ajuda.
Segundo Márcia, além do suporte psicológico aos próprios indiciados e às vítimas, o projeto trará suporte científico aos profissionais que atuam nas áreas de dependência química e trânsito. A intenção é estender o trabalho para outras cidades do Paraná e incentivar outros estados a adotar o projeto.
Nesse projeto piloto realizado em Curitiba, os psicólogos se basearam em um modelo alemão, mas pretendem estabelecer uma metodologia de avaliação própria, adequada à realidade brasileira.