2.859 oportunidades em Londrina
Depois de uma lacuna de oito anos anos, a diretora do Filo, Nitis Jacon, volta à direção teatral. O último espetáculo sob sua batuta foi Carmelita Adeus (1993). Nesse hiato temporal, Nitis riscou o mapa-mundi como fomentadora na área cultural e representante de diversos órgãos internacionais de cultura. Com um currículo substancioso, resvalando em 50 peças que levam sua digital, agora, ela dirige a 1ª turma de formandos do curso de Artes Cênicas, da Universidade Estadual de Londrina. Com o Grupo Proteu, Nitis Jacon dirigiu 21 peças. A estréia está programada para o dia 7 de dezembro.
A difícil escolha sobre qual montagem realizar recaiu sobre um texto de 2.416 anos: "As Troianas", de Eurípedes, adaptado por Jean-Paul Sartre. A equipe da Folha 2 acompanhou um ensaio da tragédia grega, em que os 21 formandos começam a delinear a forma dessa que é considerada uma obra intencionalmente pacifista. "Cuidado com a respiração. Isso...cuidado com a garganta. Não perca o contexto", diz Nitis Jacon, enquanto dirige a atriz Ana Cristina Prilchowsi, protagonista do espetáculo.
Sartre realizou a adaptação quando a França colonialista sufocava a resistente Argélia. O texto narra os horrores dos vencidos, dando visibilidade a uma galeria maravilhosa de mitos femininos: Hécuba, Cassandra, Helena e Andrômaca. Cada qual a sua maneira, as mulheres choram seus mortos e resistem às pretensões imperialistas de Atenas.
"Aqui preciso orquestrar um arquipélago. Esse grupo de alunos não vinha de experiência de trabalho coletivo, essa foi a grande dificuldade", constata. Para desaguar em "As Troianas", o grupo primeiramente trabalhou numa adaptação do texto do colombiano Gabriel Garcia Marques, "O Afogado Mais Bonito do Mundo", mas a idéia foi defenestrada. A adaptação de uma obra literária exige um trabalho mais disciplinar. "É preciso muito rigor, disciplina e humildade numa montagem como essa. Os atores não podem funcionar como alunos", avalia.
A escolha de "As Troianas" não poderia ter sido mais profética, porque a história de Eurípedes dialoga com a guerra mostrada hoje pela TV, que apresenta insistentemente a face do refugiados afegãos. Da mesma forma que Tróia foi subjulgada na tragédia grega, a Argélia também foi massacrada pela França, e o povo do Afeganistão sofre com as consequências da pretensa superioridade da civilização ocidental sobre a oriental.
Para a diretora, o maior desafio da montagem é a própria tragédia, que exige ritmo, forma de interpretação peculiar e elementos harmônicos. Segundo Nitis, por uma questão de um milímetro a tragédia pode virar um dramalhão, ou por uma questão de um milímetro o público pode rir. "A tragédia fica exatamente sobre o fio da navalha", pondera. Ela é enfática ao afirmar que se o elenco não tem essa percepção, uma pessoa do coro pode destruir todo um trabalho de conjunto. "Por isso, se um ator não estiver bem, pode virar uma rocha no cenário", afirma. Nessa montagem, a diretora conta com as colaborações na parte técnica do figurinista Samuel Abrantes, da Universidade do Rio de Janeiro, e da cenógrafa Laura Carone, que há três anos colabora com o Espaço Cenográfico São Paulo, local idealizado pelo premiado cenógrafo J.C. Serroni.
Um pequeno texto do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (um dos preferidos de Nitis Jacon), pode resumir a devoção da diretora à tragédia grega: "acho que a postura mais popular que existe é a conquista da tragédia, a descoberta da tragédia; olhar nos olhos da tragédia é fazer com que ela seja dominada"
A difícil escolha sobre qual montagem realizar recaiu sobre um texto de 2.416 anos: "As Troianas", de Eurípedes, adaptado por Jean-Paul Sartre. A equipe da Folha 2 acompanhou um ensaio da tragédia grega, em que os 21 formandos começam a delinear a forma dessa que é considerada uma obra intencionalmente pacifista. "Cuidado com a respiração. Isso...cuidado com a garganta. Não perca o contexto", diz Nitis Jacon, enquanto dirige a atriz Ana Cristina Prilchowsi, protagonista do espetáculo.
Sartre realizou a adaptação quando a França colonialista sufocava a resistente Argélia. O texto narra os horrores dos vencidos, dando visibilidade a uma galeria maravilhosa de mitos femininos: Hécuba, Cassandra, Helena e Andrômaca. Cada qual a sua maneira, as mulheres choram seus mortos e resistem às pretensões imperialistas de Atenas.
"Aqui preciso orquestrar um arquipélago. Esse grupo de alunos não vinha de experiência de trabalho coletivo, essa foi a grande dificuldade", constata. Para desaguar em "As Troianas", o grupo primeiramente trabalhou numa adaptação do texto do colombiano Gabriel Garcia Marques, "O Afogado Mais Bonito do Mundo", mas a idéia foi defenestrada. A adaptação de uma obra literária exige um trabalho mais disciplinar. "É preciso muito rigor, disciplina e humildade numa montagem como essa. Os atores não podem funcionar como alunos", avalia.
A escolha de "As Troianas" não poderia ter sido mais profética, porque a história de Eurípedes dialoga com a guerra mostrada hoje pela TV, que apresenta insistentemente a face do refugiados afegãos. Da mesma forma que Tróia foi subjulgada na tragédia grega, a Argélia também foi massacrada pela França, e o povo do Afeganistão sofre com as consequências da pretensa superioridade da civilização ocidental sobre a oriental.
Para a diretora, o maior desafio da montagem é a própria tragédia, que exige ritmo, forma de interpretação peculiar e elementos harmônicos. Segundo Nitis, por uma questão de um milímetro a tragédia pode virar um dramalhão, ou por uma questão de um milímetro o público pode rir. "A tragédia fica exatamente sobre o fio da navalha", pondera. Ela é enfática ao afirmar que se o elenco não tem essa percepção, uma pessoa do coro pode destruir todo um trabalho de conjunto. "Por isso, se um ator não estiver bem, pode virar uma rocha no cenário", afirma. Nessa montagem, a diretora conta com as colaborações na parte técnica do figurinista Samuel Abrantes, da Universidade do Rio de Janeiro, e da cenógrafa Laura Carone, que há três anos colabora com o Espaço Cenográfico São Paulo, local idealizado pelo premiado cenógrafo J.C. Serroni.
Um pequeno texto do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (um dos preferidos de Nitis Jacon), pode resumir a devoção da diretora à tragédia grega: "acho que a postura mais popular que existe é a conquista da tragédia, a descoberta da tragédia; olhar nos olhos da tragédia é fazer com que ela seja dominada"