Desde que o novo Código de Trânsito Brasileiro entrou em vigor, em janeiro de 1998, cerca de 82 mil candidatos a motorista do Estado foram reprovados anualmente no teste do volante. Isso corresponde a 45% do total de processos que deram entrada para requisitar a carteira de habilitação num ano. O levantamento é do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), que responsabiliza os Centros de Formação de Condutores.
"As pessoas não estão sendo preparadas adequadamente", diz o assessor executivo do Detran, Francisco Andreatta. O balizamento é apontado como um dos principais testes que os candidatos têm dificuldade para cumprir. Se ele não estacionar entre dois veículos, está reprovado. Nas provas teóricas, que medem o conhecimento da legislação de trânsito, 20% dos candidatos não conseguem passar nas provas. Por causa de problemas como estes, 16 centros tiveram as atividades suspensas em até 30 dias no ano passado. O número é quase o dobro registrado no ano anterior. Em 1999, apenas nove foram punidos.
O chefe da Controladoria Regional de Trânsito (CRT) do Detran, Osmar Marcondes, afirma que estes centros não respeitaram a carga horária mínima estabelecida no código. A lei determina que as aulas práticas devem ter pelo menos 15 horas, enquanto as teóricas 30 horas. A Folha tentou contato por duas vezes com o Sindicato dos Proprietários de Auto-Escolas do Estado, mas ninguém foi localizado na tarde de ontem para falar sobre o assunto.
Andreattta diz que uma mudança nessa realidade só vai ser possível se os centros promovessem "uma mudança no processo de ensino. O Detran vem cobrando isso dos sindicatos". O assessor entende que quem quer tirar a carteira também deve fazer uma autocrítica sobre suas reais chances de virar um motorista. "O próprio aluno precisa avaliar suas condições (para dirigir)." O índice de 45% é considerado "alto" por ele, mesmo levando em conta a rigidez imposta pelo novo código na formação dos condutores.
Uma comparação com o número de reprovados na legislação anterior a de 1998 não é possível, alega Andreatta. "Os critérios são totalmente diferentes e o processo ainda está se aperfeiçoando." Segundo ele, o Detran está adotando maior rigor na seleção dos examinadores, que têm a tarefa de observar o desempenho dos candidatos a motorista nos testes práticos. "A banca de examinadores está sendo capacitada."
Antes de funcionar, um centro de formação tem as instalações físicas, os equipamentos e o material didático analisados por técnicos do Detran. No Paraná existem 470 centros de formação, sendo 130 localizados em Curitiba.