Árvores nativas raras e ameaçadas de extinção - como imbuia, canela e araucária - vêm sendo derrubadas sem controle dos órgãos ambientais no município de Bituruna, no Sul do estado. As áreas exploradas fazem parte dos últimos remanescentes dos grandes pinheirais do Paraná, que chegaram a cobrir mais de 40% do território do Estado e dos quais restam, hoje, apenas 0,8%.
"Falar em desmatamento irregular em Bituruna chega a ser um pleonasmo", avaliou o presidente da Liga Ambiental, José Álvaro Carneiro, que é membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Há duas semanas, a reportagem da Folha esteve na região e flagrou cortes irregulares em três fazendas: Abbas, Vale da Solidão e Milome. A última pertence ao deputado estadual Valdir Rossoni (PTB), que até o dia 15 era o líder do governo na Assembléia Legislativa.
Os cortes nestas três fazendas estavam sendo realizados há pelo menos dois meses e, só depois de denúncia da Folha, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) fiscalizou as propriedades e multou os donos das fazendas. Para extrair árvores, os madeireiros entram no meio da mata, retirando apenas as árvores mais nobres. O processo é similar ao que resultou em multas em três assentamentos dos sem-terra em Bituruna (veja matéria nesta página).
Nas três fazendas, foram retirados 190 mil metros quadrados (ou 19 hectares), quantia equivalente a 34 campos de futebol, com 100 metros de comprimento por 50 de largura. "Todas tinham autorização e alvará para manejo de algumas florestas ou decapamento de pequenas áreas", disse o diretor de fiscalização do IAP, Mário Sérgio Rasera. Porém, essas autorizações foram desrespeitas, em função que os madeireiros cortaram mais que o permitido.
Por causa do desmatamento irregular, a propriedade Vale da Solidão deve pagar R$ 4,5 mil pela retirada irregular de 10 hectares (100 mil metros quadrados) de material lenhoso e árvores nativas. Mesmo valor foi aplicado para a Fazenda Abbas, pelo corte em três hectares (30 mil metros quadrados) da propriedade, inclusive em áreas próximas de rios.
Já na Milome, foram retiradas seis hectares (60 mil metros quadrados) em áreas às margens de rios e no meio da mata. Por causa disso, foi multada em R$ 9 mil reais. Essa é a segunda multa que a propriedade recebe neste ano, porque foi autuada em abril passado.
Porém, a multa é pequena com relação ao valor pago pelo metro cúbico da madeira em pé - que é aquela bruta, retirada diretamente da mata. O metro cúbico da imbuia chega a atingir a R$ 240,00. Já o da araucária e canela branca podem receber até R$ 220,00. "Quando são retiradas da mata ilegalmente, essas madeiras são processadas e vendidas também de maneira irregular", afirmou o biólogo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Miranda Britez.
Geralmente, explica o ambientalista José Álvaro Carneiro, essas madeiras têm um receptador já pré-estabelecido, que arrenda as áreas a serem desmatadas. Ao serem indagados pela Folha, trabalhadores que retiravam as árvores da região informaram que as toras iriam para as madeireiras Maramboni, em General Carneiro (Suldo Estado), e João Gobbi, em Bituruna. No entanto, as duas empresas refutam qualquer ligação com o corte dessas madeiras. "Agora, o IAP está investigando quem foram os receptadores dessas toras", afirmou Mário Rasera..
De acordo com o IAP, o pedido de corte na Fazenda Milome foi feito por uma empresa de engenharia florestal. Já nas duas outras propriedades as licenças foram requeridas pelos proprietários. A Folha tentou conversar com os proprietários nas fazendas. Na Vale da solidão, a responsável, Olga Vergopolan, não retornou as ligações. No caso da Milome, o deputado estadual Valdir Rossoni não foi encontrado em seus telefones celulares. As ligações para os dois foram feitas durante as duas últimas semanas.
Já o proprietário da Fazenda Abbas, Mohamad Abdul Abbas, disse que a retirada irregular aconteceu por falha da empresa contratada para realizar o manejo na propriedade. Dono da Madeireira Santa Catarina, especializada em compesados, ele garantiu que sua empresa não tem interesse em fazer retiradas de mata nativa, já que trabalha com pinus. Além disso, ele assegurou que em 40 anos de profissão sempre respeitou a legislação ambiental.