Paraná

Decisão judicial revolta garimpeiros de Ponta Grossa

18 abr 2001 às 12:01

Ontem foi dia de trabalho dobrado no lixão do Botuquara, em Ponta Grossa. Ao tomar conhecimento da sentença judicial que determina a retirada das pessoas do lixão da cidade, os garimpeiros, que sobrevivem da venda de material reciclável colhido no local, aumentaram o ritmo de trabalho para garantir uma reserva financeira quando a determinação entrar em vigor, o que deve acontecer em 15 dias. "Aceleramos o ritmo para garantir um mês a mais de sustento", dizia Angela Ribeiro, 51 anos.

Muitos trabalhadores estavam revoltados com a notícia. "Não estamos fazendo nada de errado aqui. Só queremos garantir o sustento de nossas famílias", argumentava Gilberto Oliveira, 23 anos, pai de duas filhas. Por mês ele consegue cerca de R$ 500,00 no lixão. Antes de "garimpar", ele era servente de pedreiro e seus ganhos mensais não passavam dos R$ 280,00. "Se eles acham que um trabalho honesto não está certo então vamos colocar um 38 na cintura para garantir o pão e o leite para os nossos filhos", reclamava.


Angela Ribeiro, que é uma espécie de líder dos garimpeiros, demonstrava mais mágoa e preocupação do que revolta. "A vida da gente já não é fácil e sempre tem mais alguma coisa para complicar. A gente quer trabalho e não esmola. Uma cesta básica não resolve", dizia. Ela acredita que a criação de uma cooperativa de lixo reciclável resolveria o problema. "Mas tem que ser com um pagamento de no mínimo dois salários", adianta. No lixão ela e o marido conseguem garantir três salários por mês. "Dá até para pagar telefone", orgulha-se. Angela já foi cozinheira e enfermeira. Mas quando a legislação exigiu concurso para continuar na atividade hospitalar ela perdeu o emprego. Sua escolaridade era insuficiente para prestar o concurso. A alternativa foi recorrer ao lixo.


A história se repete com a maioria dos garimpeiros. João Nater Paes, 25 anos, tem quatro filhos e a esposa para sustentar. Com o lixo ganha quase 50% a mais do que recebia trabalhando na construção civil. E com uma vantagem: "aqui nunca falta serviço", salienta.


O prefeito Péricles de Holleben Mello (PT) voltou a afirmar ontem que o problema do lixão é uma preocpação que sempre esteve presente no seu governo, mas que ainda não houve tempo para solucioná-lo, uma vez que é bastante complexo. "Podemos colocar vigias lá e impedir a entrada das pessoas, mas elas vivem daquilo", reforçou. Segundo ele, foi criada na prefeitura uma comissão especial para encontrar uma solução emergencial para o problema, até que a prefeitura tenha condições de implantar cooperativas de reciclagem de lixo e empregar os garimpeiros. Péricles também afirmou que a prefeitura não pensa em recorrer da sentença judicial.


A Veja Engenharia Ambiental, empresa que faz a coleta de lixo na cidade, ainda não foi notificada oficialmente sobre a sentença proferida na segunda-feira pelo juiz da 2ª Vara Cível, Fábio Marcondes Leite. O gerente da empresa, Paulo Meirelles, disse que aguarda a notificação para informar a assessoria jurídica da empresa e aí tomar um posicionamento.


Mas ele adianta que a cerca não é suficiente para impedir a presença dos garimpeiros no lixão. "Cerca até já existe, mas eles a cortam quando querem entrar", conta. Segundo Meirelles, a empresa, mais do que ninguém, quer regularizar a situação do local, mudando o lixão para uma área com solo adequado e projetos de implantação ambientalmente corretos. Hoje o lixão está localizado numa área de preservação ambiental.

Por mês, Ponta Grossa produz de 3,5 a 4 mil toneladas de lixo. A área na localidade do Botuquara recebe lixo desde 1972. Nos pontos mais altos, a camada de lixo chega a oito metros aproximadamente, segundo Meirelles. Diariamente a empresa faz a compactação do lixo e o cobre com terra. Esse trabalho só é interrompido, conforme o gerente, em dias de chuva.


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