Na próxima semana, o Hospital São Lucas de Sertanópolis (40 km ao norte de Londrina) deve concluir processo administrativo que investiga denúncia de morte induzida que teria sido praticada por uma das médicas de seu corpo clínico em um paciente de 87 anos. Há cerca de uma semana, o caso ganhou reforço do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná que recebeu denúncia e cópias do processo administrativo. Um inquérito também corre na Polícia Civil local.
A morte ocorreu no final de março deste ano e a denúncia foi impetrada em abril pela enfermeira Andrea Hernandes Gaspar que, junto com uma auxiliar de enfermagem, presenciou a morte do paciente, em estado de coma.
O óbito teria ocorrido após aplicação de 40 ml de cloreto de potássio no paciente - um sal comumente utilizado para reposição de minerais, via soro que, em grandes quantidades, causa parada cardíaca e morte.
Segundo a enfermeira, a médica pediu a ela que fizesse a aplicação de duas ampolas do material no paciente, como Andrea recusou, o pedido foi transferido, também sem sucesso, a uma auxiliar de enfermagem.
''Depois disso saímos fazer visitas de rotina e na volta à enfermaria vimos a médica terminando a aplicação, segundos depois o paciente ergueu o tórax por duas vezes e disse 'ai', foi horrível, a atendente começou a rezar e entrou em pânico'', relata.
A enfermeira, que vinha evitando dar entrevistas, resolver falar com a após perceber que a opinião pública se voltou contra ela. Um grupo de ex-pacientes da médica lançou uma campanha de apoio a ela e organizaram um abaixo-assinado - segundo informações não confirmadas com 2 mil assinaturas - pedindo a volta dela ao hospital. Na cidade, os moradores ouvidos informalmente pela reportagem mostraram-se pouco informados. A médica está afastada do hospital, mas continua atendendo em um posto de saúde.
"Estou passando por mentirosa e oportunista, agora por que eu iria arriscar minha carreira por nada, agi dentro da ética, pelo que eu aprendi, isso é crime (...) não admito que isso aconteça no hospital em que trabalho'', desabafa.
Andrea também revela que logo após o caso, a médica teria confessado a conduta em uma reunião do corpo clínico do hospital e, ainda, em uma palestra. O diretor-clínico do hospital, Luiz Oporto, não confirmou nem negou a informação. ''Não estou autorizado a falar sobre o caso por conta do sigilo'', disse.
Segundo ele, a decisão será tomada através de votação onde participam os diretores clínico, administrativo e representante da mantenedora do hospital, no caso a Associação de Proteção à Maternidade e Infância (APMI). O hospital é mantido com recursos públicos repassados pela prefeitura local. ''A mantenedora tem maior peso de decisão'', explica.
Paralelo e independente do processo adminsitrativo, o caso tomou caráter criminal após intervenção do Ministério Público local. A promotoria solicitou investigação à Polícia Civil. Várias pessoas já foram ouvidas. O delegado de Sertanópolis, Adriano da Cruz Ribeiro, não foi encontrado na delegacia na tarde desta quarta-feira. Os familiares do paciente não quiseram comentar o assunto.
A médica também foi procurada pela reportagem, mas ela preferiu não se manifestar seguindo orientação dos advogados.