O Paraná perde para praticamente todos os estados das regiões Sul e Sudeste na assistência às suas crianças. Essa é a triste realidade revelada pelo relatório sobre a Situação da Infância Brasileira 2001, divulgado na terça-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Paradoxalmente, o documento traz também uma boa notícia para o estado, que conseguiu a classificação do pequeno município de Nova Olímpia (região Noroeste) com o segundo melhor conceito entre todas as cidades brasileiras.
O documento avalia as condições de vida das crianças de 0 a 6 anos de idade, a partir da escolaridade dos pais e de indicadores de saúde e educação. Os municípios foram classificados numa escala de 0 a 1 com um Índice de Desenvolvimento Infantil (UDI), nome dado ao indicador pela Unicef para estabelecer um ranking entre as cidades brasileiras.
Classificado em 9º lugar entre os 27 estados do País, à primeira vista a posição do Paraná não parece tão desfavorável. O problema é que a pesquisa revelou que o desempenho do Estado está abaixo de praticamente todos os estados das regiões Sul e Sudeste, historicamente consideradas mais desenvolvidas. Destas duas regiões, apenas Minas Gerais fica atrás do Paraná.
A maioria dos municípios do País (80%) obteve pontuação abaixo de 0,6. A média dos estados ficou em 0,539. Só o Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Roraima obtiveram médias acima de 0,6. Em seguida vem Goiás, com 0,598 e o Paraná com 0,594. Os piores resultados estão no Norte e Nordeste, regiões onde estão os 14 estados com os piores desempenhos. Alagoas teve a pior colocação com 0,426.
Baseado em dados de diversos órgãos, o documento aponta que das 1.262.106 crianças de 0 a 6 anos que vivem no Paraná, 47% têm pais com escolaridade precária (menos de quatro anos de estudo) e 23% têm mães nesta condição. Sobre o acesso escolar, 11% estão matriculadas em creches e 38,5% em pré-escola. No quesito saúde 97,8% das crianças foram vacinadas contra o sarampo e 93% contra a difteria, tétano e paralisia infantil (DTP). Dos 399 municípios do Estado, só 115 tiveram classificação acima de 0,6, enquanto os restantes 284 ficaram abaixo deste índice. Grande parte das cidades (161) estão entre 0,5 e 0,6, e três ficaram com índices inferiores a 0,3: Laranjal, Doutor Ulisses e Boa Ventura de São Roque.
"O relatório mostra que o Paraná tem que investir principalmente no combate ao analfabetismo e na educação", avalia o responsável pelo setor de Políticas Públicas da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, que acredita que o trabalho desenvolvido pela Pastoral não deve comprometer a avaliação do Estado no que se refere aos índices de mortalidade infantil. Enquanto no Brasil a mortalidade infantil é de 40 crianças para cada mil nascidos vivos, em 1999, de acordo com a Unicef, nas áreas atendidas pela Pastoral esses números estão entre 11,7 e 17,6 mortes por mil nascidos vivos. No Paraná o coeficiente de mortalidade cai para 9,4/mil em algumas regiões.
Para Marilde Faver, coordenadora estadual da Pastoral da Criança, "o resultado é desesperador" e representa um desafio não apenas para a Pastoral, mas também para a sociedade e governo. Segundo ela, uma das ações necessárias é o combate ao analfabetismo. "A cultura é um item básico patra termos bons resultados nas questões de saúde. Onde o analfabetismo é alto os resultados sempre são inferiores", diz. Os representantes da Pastoral reforçam também a necessidade de se trabalhar mais intensamente com a comunidade, incentivando-a a integrar órgãos de controle social, como os conselhos de saúde, e de direitos da criança e do adolescente.
Outro que defende o incremento de políticas públicas é o padre Dácio Bona, coordenador da Pastoral da Menor da Região Metropolitana de Curitiba. "Os números são apavorantes. Se fosse no Pará ou Roraima, onde há dificuldades de transporte e de acesso aos serviços de saúde e educação até dava para entender, mas não aqui no Paraná, que sempre foi considerado um dos estados mais avançados do país", diz, ao mesmo tempo em que questiona os dados apresentados até então pelo governo. "Será que os dados oficiais não são reais?", pergunta.