Catadores de papel não têm carteira assinada, férias ou aposentadoria. A falta destas garantias sociais aos trabalhadores, que em Curitiba chegam a 3 mil, aumenta a distância que os separa do reconhecimento profissional. Para mudar o perfil, eles decidiram organizar ontem uma comissão que participará do 1º Congresso Nacional dos Catadores de Papel e a Marcha da População de Rua, em Brasília, na próxima semana.
Pelo menos 2 mil pessoas de todo o País estão sendo esperadas no encontro, uma forma de alerta para que as autoridades encontrem meios de amparar os catadores na legislação trabalhista, além de linhas de financiamento para cooperativas e associações da categoria. Na opinião deles, a conquista dos direitos passa pela eliminação do preconceito, o inimigo número um nas ruas. "Muita gente acha que o catador é marginal. A sociedade precisa entender nossa ajuda para a limpeza da cidade", diz Marilze Aparecida de Lima, 30 anos, cinco deles vividos de catar lixo em Curitiba.
Outra barreira é o mercado que compra o material garimpado em condomínios residenciais, lojas e fábricas. "O dono do depósito compra pelo preço que ele quer", afirma Marlos Afonso Carvalho Rodrigues, 42 anos, há quatro na profissão. Se o catador recebe R$ 0,25 por quilo de papel, o dono do depósito pode ter um lucro de 75% com a mesma quantidade vendidas para as grandes fábricas que reprocessam o material.
Conhecidos pelas carroças puxadas pelos próprios catadores, eles enfrentam ainda a concorrência de colegas que conseguiram comprar um automóvel para agilizar a coleta do material. A dona de casa Maria Malaquias Melo, 50 anos, que ajuda a cuidar dos filhos dos catadores na Vila das Torres, uma favela de Curitiba, diz que a própria prefeitura também disputa o material de melhor qualidade com os "carrinheiros", como os trabalhadores são conhecidos.
"Os condomínios guardam os papéis para o caminhão do Lixo que Não é Lixo (projeto para reciclar o lixo doméstico)", afirma Maria. A chefe de serviço da Secretaria municipal do Meio Ambiente, Maria Alice Bello, diz que os caminhões só apanham o que os catadores dispensam. Ela acredita que os moradores de condomínios poderiam ajudar os carrinheiros. "Depende da população separar o lixo para os catadores. Eles também precisam se organizar melhor".