Lauricéia Silveira da Silva, 19 anos, veio da cidade de Colnisa, no Mato Grosso, quase na divisa com o Amazonas, para se submeter a um transplante de medula óssea no Hospital de Clínicas (HC), em Curitiba, ainda esta semana. A previsão é de que ela, o irmão Marcos, 17 anos, doador da medula, e o pai Antonio Silveira da Silva permaneçam no mínimo quatro meses na Capital. Vivendo com uma renda de R$ 200,00 mensais para sustentar sete pessoas, Antonio não teria condições de se manter na cidade se não tivesse a ajuda de uma associação quase desconhecida, que nasceu para prestar apoio aos pacientes que fazem transplante de medula óssea no HC.
Criada há um ano, a Associação Mara Lígia Cercal de Apoio aos Pacientes do Serviço de Transplante de Medula Óssea (Amalice) vem conseguindo manter uma média de seis pessoas em uma pequena casa de madeira, cedida há dez anos por sua proprietária. A casa é velha, as instalações são precárias e a todo momento surge um problema para consertar. Mesmo assim, acaba sendo a salvação para quem chega à cidade e não tem recursos para se manter.
"Eu não teria condições de ficar aqui. Acho que precisaria de uns R$ 2 mil para pagar pousada, alimentação e remédios", diz o vigilante Antonio Valter Bispo dos Santos, 31 anos, que veio de Alagoinhas, no interior da Bahia, junto com seu irmão Ricardo Bispo dos Santos, 26 anos, que foi seu doador. Ele fez o transplante em 1999, mas teve que retornar em função de algumas complicações. Já naquela época, ficou no local, mas após o transplante acabou foi para uma pousada por causa dos riscos de infecção devido a precariedade da casa.
Segundo o presidente da Amalice, Gunnar Ruschmann, ex-paciente que recebeu transplante em 1996, um dos desafios é conseguir regularizar a situação da entidade este ano. Já está na Câmara Municipal um projeto para declarar a Associação como utilidade pública, o que permitiria que os empresários descontem suas doações à entidade no imposto de renda. Outra preocupação é cadastrar o maior número de ex-pacientes como associados, de modo a aumentar as contribuições. Hoje a entidade tem apenas 60 pessoas cadastradas e uma renda de cerca de R$ 700,00 por mês.
O grande sonho dos diretores da Associação, é conseguir uma casa adequada para receber os pacientes. "Queremos ter condições de atender bem estas pessoas nos quatro meses que ficarem aqui. Outro objetivo é orientar as famílias sobre os procedimentos depois do transplante, senão o paciente volta a ter uma vida com os mesmos vícios anteriores e a doença retorna", diz a psicóloga Maribel Pelaez Doro, secretária geral da Amalice.
A Amalice calcula que uma família gastaria pelo menos R$ 1,2 mil por mês em pensão, alimentação e medicamentos para manter o paciente, doador e um acompanhante em Curitiba. Como a permanência pode variar de quatro meses até dois anos, em casos mais complicados, sem ajuda o transplante se tornaria inviável para a maioria.
Desde 1979, quando foi criado, até abril deste ano, o serviço do HC realizou 1.230 transplantes, numa média de cinco por mês. Entre os pacientes, a maioria é de fora de Curitiba. Dados do setor mostram que 47% são da Região Sul, sendo 26% do Paraná. Outros 27% são do Sudeste, 13% do Nordeste, 10% do Centro-Oeste, 2% do Norte e 1% de outros países.
Serviço: Para colaborar com a Amalice as pessoas podem ligar para 262-6665 e falar com Euza, Denise, Liziane, Maribel, Regina, Marlene ou Mirela. Depósitos bancários podem ser feitos em nome da Amalice no Banco do Brasil, agência 1243-2, conta corrente 12.786-8, ou no HSBC agência 0358, conta corrente 04611-00.