Caminhoneiros paranaenses e de todo o Brasil vão ser alvo de uma campanha de orientação contra a aids, promovida pelo Ministério da Saúde e que começa a partir de amanhã. O trabalho de orientação à categoria vai ser feito em conjunto com o Serviço Social dos Trabalhadores do Transportes e Sistema Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat). "Os caminhoneiros foram escolhidos por terem um baixo conhecimento sobre as formas de contaminação da doença", explicou o gerente do Posto de Atendimento ao Trabalhador do Transporte do Sest/Senat em Cascavel, Rubens Subtil de Oliveira.
Um pesquisa recente do Ministério da Saúde apontou que 50% dos caminhoneiros do Porto de Santos não usam camisinhas. E o resultado disso, é que 1,3% deles está infectado com o vírus HIV. "A falta de informação e a cultura machista em todo o país expõem o caminhoneiro e sua família", disse Francisco Carlos dos Santos, do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e aids, da Secretaria Estadual de Saúde.
Atualmente de cada dois homens contaminados existem cinco mulheres contaminadas. Em 1986, este percentual era de dois para cada 32 mulheres. Existem no estado do Paraná 8.620 casos notificados, desses 2.562 do sexo feminino e 6.058 do masculino.
Francisco dos Santos, da Secretaria de Saúde, disse que os caminhoneiros em suas viagens acabam vivenciando situações de risco com as prostitutas e também com "namoradas fixas". "O problema maior não é com as profissionais do sexo, mas com as namoradas, as quais o caminhoneiro aposta em uma provável fidelidade", disse. "E os caminhoneiros não acreditam que a doença possam atingi-los", complementou.
"A gente se perde na hora que os olhinhos viram e esquece das coisas", disse o caminhoneiro José P., que por ser casado prefere não dar o nome completo. Há 30 anos na estrada, ele conta que na solidão da estrada não é fiel. "Só agora nos últimos anos uso camisinha, mas quando tenho na mão", afirmou. O caminhoneiro não sabe se tem aids, porque nunca fez o teste. "O homem é homem e não precisa disso".
No entanto, essa visão não é compartilhada por todos os seus colegas de estrada. André Luiz Ronasini, mais jovem e com menos tempo de profissão, disse que sempre está prevenido. "Não dá para arriscar, a gente pode perder tudo por não usar o preservativo", afirmou. Com uma camisinha na carteira, ele disse que prefere não se arriscar. "Ainda mais na estrada, onde as prostitutas rodam mais que nós, cobrando bem barato pelo programa", disse. Nos postos do estado, os programas giram em torno de R$ 5,00 a R$ 15,00.