Paraná

Automedicação é prática comum em população de baixa renda

08 nov 2000 às 15:43

Pesquisa de iniciação científica de alunas do 5º ano de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) constatou um alto índice de automedicação entre famílias carentes de Curitiba. O trabalho foi desenvolvido nos últimos 12 meses na comunidade Lotiguaçu, uma área de invasão onde vivem 26 mil pessoas.

""Percebemos que é comum as pessoas usarem analgésicos, antitérmicos e antinflamatórios sem prescrição médica"", disse Letícia Maria Esmanhotto, uma das integrantes do grupo que fez o levantamento por amostragem.


Em 254 famílias visitadas, 37% têm analgésicos e antitérmicos em casa. Usam sem prescrição médica e indicam para conhecidos que estejam sentindo dores ou com febre. Remédios com o princípio ativo dipirona foram encontrados em 12,19% das casas. ""A maioria dos medicamentos é usada de maneira e em doses erradas"", explica a estudante.


Os riscos da automedicação são a possibilidade de mascarar a doença e dificultar o tratamento. A febre, por exemplo, não é doença, mas sintoma de que existe alguma infecção no organismo. Quando o paciente combate apenas a alta temperatura, a casa da doença pode continuar existindo. ""Pessoas se automedicam em busca de alívio rápido, mas isso pode agravar as enfermidades.""


As estudantes vão apresentar os resultados da pesquisa a técnicos da Secretaria Municipal de Saúde e para as comunidades carentes. A próxima etapa da pesquisa será analisar a validade dos medicamentos que ficam guardados em casa. ""Aquele prazo de validade inscrito na embalagem serve para os remédios antes de serem abertos, depois do início do uso aquilo não vale mais nada"", explica. ""O problema é que as pessoas guardam restos de remédios em casa por vários meses e os reutilizam ou fornecem a filhos ou amigos.""


As estudantes constataram que nos casos de indicação de medicamentos por leigos, as chances de erro nas doses são 3,66 vezes maiores que nas prescrições médicas. Outro problema encontrado pelas pesquisadoras foi a sobrevida de receitas médicas. ""É comum o paciente ter uma receita médica para tratamento de doença antiga, voltar a sentir sintomas parecidos aos que tinha antes e usar a mesma prescrição ao invés de retornar ao médico.""


A automedicação não é exclusividade das famílias de nível educacional baixo. A pesquisa constatou que 61,5% dos chefes de família com apenas o ensino fundamental pratica a automedicação. ""Por incrível que pareça, em 85,1% dos casos onde o chefe de família tem ensino superior há uso incorreto de medicação"", completa a estudante.

Essa pesquisa de iniciação científica faz parte da III Mostra de Pesquisa da PUC-Pr e pode representar a universidade na Jornada Nacional de Iniciação Científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.


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