A ocorrência de um surto de meningite viral em Ponta Grossa, Região Central do Estado, não deve ser motivo para qualquer perturbação no início do período letivo. A garantia foi dada ontem pelo secretário da Saúde, Armando Raggio, que esteve na cidade para falar a respeito do aumento no número de ocorrências.
A cada dois dias, somente no município de Ponta Grossa, são registrados em média três novos casos da doença. Em todo o Paraná, em 2001 foram anotados 168 casos de meningite em geral, sendo 69 da forma viral, a que vem se manifestando em Ponta Grossa, onde até agora estão confirmados pelo menos 49 ocorrências.
O secretário descartou a existência de uma epidemia, lembrando que o vírus causador da meningite é "episódico" e, além do mais, tecnicamente "epidemia" é a progressão de um surto de doença com rara incidência em determinada região. "A meningite é uma doença endêmica", garantiu Raggio, revelando que ela ocorre esporadicamente em todo o planeta, sem a perspectiva de erradicação.
Para Raggio, a meningite viral é uma "doença controlada", cuja progressão de casos, embora lenta, não é interrompida. O controle então é a reação imediata: tão logo ela se manifesta, é feito o diagnóstico preciso. A Secretaria de Saúde alega dispor de meios para saber exatamente a forma, a quantidade e a eventual gravidade dos casos notificados, havendo ainda a possibilidade de, com o agravamento do quadro, o Estado ter meios de intervir, por estar acompanhando a situação de perto.
O secretário também garantiu que não existe qualquer risco de portadores da meningite viral servirem como vetores da doença e "exportá-la" para outras regiões, em vista de ser este um episódio "regionalizado".
Vacina
Embora ainda não haja certeza, as autoridades sanitárias do Estado suspeitam que o agente causador do surto de meningite que está superlotando o Hospital da Criança em Ponta Grossa seja a manifestação secundária de uma enterovirose, que se desenvolve a partir da reinfecção do paciente: a criança apresenta uma pequena infecção intestinal, causada por um vírus, que provoca diarréia.
Como atinge crianças que estão ganhando mais autonomia, entre os três e os sete anos, é justamente a falha na auto-higiene que permite essa reinfecção. A criança vai ao banheiro sozinha e alimenta-se também sozinha, mas ainda não adquiriu hábitos de higiene corretos, e permite assim a migração do vírus para o trato alimentar, e daí à meninge (a membrana que recobre o cérebro e a medula espinhal). A esse processo os técnicos da vigilância dão o nome de transmissão fecal-oral.
Os diferentes graus de acometimento dos pacientes, com sintomas mais ou menos fortes, decorrem também da condição geral da criança; as mais fortes e com boas condições imunológicas desenvolvem sintomas mais brandos, com leves dores de cabeça, estado levemente febril e diarréia fraca.
Como ainda não existe vacina para esse tipo de meningite, e a Secretaria de Saúde não recomenda o emprego das demais, para as outras formas de meningite - que podem levar a uma falsa idéia de proteção, com conseqüente descuido dos hábitos de higiene - a recomendação dada aos pais é que insistam exatamente nesse ponto.
Descartando um agravamento na situação sanitária, o secretário Armando Raggio garantiu que sua presença em Ponta Grossa ontem deveu-se apenas a uma manifestação de solidariedade do governo estadual para com o governo municipal. "A doença está difusa, e não está concentrada em uma região ou classe social da cidade", adiantou Raggio, que também garantiu não haver qualquer evidência de contaminação através da água, como a princípio se suspeitava.
Escolas
O secretário também justificou sua manifestação sobre a meningite para evitar que pais, preocupados com a disseminação da doença e eventuais riscos de contaminação de seus filhos, fiquem apreensivos com a volta às aulas. "Quero deixar claro que os pais não precisam temer pela saúde dos filhos, por mandá-los à escola, que é um ambiente sanitariamente correto", informou Raggio. Na coletiva de ontem à tarde, assistida inclusive pelo prefeito Péricles Mello (PT), Raggio fez um apelo para que os pais mandem seus filhos normalmente à escola, porque muitas vezes ficar em casa é "menos seguro" do que ir às aulas.