Um grupo não identificado incendiou nesta madrugada a casa onde funcionava a Promotoria de Investigação Criminal (PIC). Todas as salas onde os promotores trabalhavam ficaram queimadas. Mais de 90% dos arquivos em papel e equipamentos eletrônicos foram perdidos - inclusive depoimentos gravados em vídeo.
O único vigia que estava no local, José Zetti, disse que havia duas ou três pessoas com capuzes e luvas. Eles usavam rádios HTs para comunicação com outros integrantes da quadrilha que estariam nas imediações. Os incendiários jogaram gasolina na casa para que o fogo atingisse todos os cômodos ao mesmo tempo.
Toda a ação durou poucos minutos. Por volta das 5 horas da manhã o corpo de bombeiros foi acionado por vizinhos da PIC, que fica na Rua Agostinho Leão Junior, no bairro Alto da Glória. O vigia foi vendado, amordaçado e amarrado em uma árvore do lado de fora da casa. Ele, que estava muito nervoso, só falou com a polícia. O estrago só não foi maior porque os incendiários deixaram os vidros das janelas fechados. Com pouco oxigênio, as labaredas não chegaram a atingir o teto e a estrutura da casa.
Segundo o promotor Dartagnan Abilhoa, responsável pela PIC, o incêndio criminoso foi mais uma tentativa de intimidar o trabalho da promotoria. ""Nós temos cópias dos documentos mais importantes em um lugar seguro, o que tentaram fazer foi amedrontar os promotores, mas isso eles não vão conseguir"". Entre os documentos com cópias estão as investigações sobre o roubo e desmanche de carros e o narcotráfico no Estado.
Esse foi o terceiro atentado contra a PIC em pouco mais de três meses. O primeiro foi um atentado à bala contra dois policiais que estavam na frente da casa. Depois disso, ocupantes de um veículo não identificado atiraram coquetéis molotov no pátio da PIC. Nessas duas vezes não houve danos.
Para o procurador-geral do Ministério Público, Marco Antonio Teixeira, esse foi o maior atentado contra o Ministério Público em todo o País. ""Não há precedente de ação dessa magnitude no Brasil inteiro"", disse, completando que ""infelizmente isso foi acontecer no Paraná"". Havia mais de uma centena de procedimentos em andamento na PIC, entre investigações, denúncias e documentos para pareceres. O principal alvo da promotoria de investigações criminais é o crime organizado no Paraná.
Segundo Abilhoa, é cedo para identificar suspeitos, mas todas as denúncias contra o crime organizado do Estado estavam sendo feitas pelos promotores da PIC. Narcotráfico, roubo e desmanche de carros, corrupção de servidores públicos e até denúncias de crime contra o patrimônio público envolvendo vereadores e funcionários estaduais são de responsabilidade da PIC.
Além disso, os promotores tinham recebido na semana passada cópia do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico, do Congresso Nacional. A CPI denunciou quase uma centena de paranaenses entre empresários, políticos, funcionários de alto escalão do governo do Estado e policiais que estariam envolvidos com o tráfico de drogas. ""Uma boa parte das pessoas investigadas pela PIC é de policiais, mas não podemos fazer acusação ainda"", afirmou Abilhoa.
Leia mais em reportagem de Emerson Cervi, na Folha do Paraná deste sábado