"Quem matou Tayna?". Esta questão ainda segue sem respostas. O dia 25 de junho de 2013 foi apenas o início deste caso que chamou atenção de todo o Paraná e também foi destaque nacionalmente. Após o sumiço da adolescente Tayna Adriane da Silva, 14 anos, moradora da cidade de Colombo, região metropolitana de Curitiba, uma sucessão de acontecimentos, falhas e até casos de tortura envolvendo policiais civis tomaram conta das investigações.
A jovem desapareceu durante a noite daquele dia, uma terça-feira. No dia 27 do mesmo mês, quatro rapazes foram presos acusados da morte da jovem. O corpo dela, entretanto, foi encontrado apenas no dia seguinte, com marcas de agressão e indícios de violência sexual. Na ocasião, houve dificuldade por parte da Polícia Civil de encontrar o corpo da jovem.
Apesar da confissão dos quatro rapazes e de a Polícia Civil ter concluído um inquérito que os denunciava como autores do estupro seguido de morte, algumas evidências surgiram e os acusados pela morte se tornaram vítimas de outro crime: a tortura em delegacias da região metropolitana da capital.
Cenário - O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), advogado José Carlos Cal Garcia, disse que a comissão recebeu informações do diretor da Casa de Custódia de Araucária e do advogado de defesa dos quatro acusados de que havia indícios de que eles chegaram ao presídio com sinais de tortura. "A OAB foi até o local e verificou que havia muitas marcas neles de tortura. Inclusive um deles estava preso no Complexo Médico Penal".
A OAB-PR apurou que teriam sido quatro dias de tortura, que aconteceram em delegacias da RMC. Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos do órgão, quando os quatro acusados tiveram a oportunidade de relatar o caso, demonstraram "pavor, medo e disseram que temiam por suas vidas".
Para Garcia, a violência pela qual eles passaram, que ainda é objeto de investigação, revela um estado que, apesar de 28 anos depois do fim da ditadura militar, ainda possui muitas características ligadas àquela época. "É preciso revelar esses casos, levar ao conhecimento das autoridades e combater veementemente. Infelizmente acredito que esses casos vão demorar a acabar, porque a cultura da população ainda possui a ideia de que bandido bom é bandido morto".
Ainda segundo o presidente da Comissão, casos de tortura geralmente envolvem presos que são de origem mais humilde. "Tortura com pessoas da classe média é pouco comum e não há uma razão que eu possa dizer com certeza para que as pessoas mais humildes sejam torturadas".
Investigações - Após as denúncias de tortura, exames foram feitos no Instituto de Criminalística e apontaram que o sêmen encontrado em Tayná não era dos presos. O Ministério Público não aceitou a denúncia contra os quatro acusados. Pela falta de provas, eles foram soltos em julho. Desde então, permanecem incomunicáveis sob amparo do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas, do Ministério da Justiça.
Uma denúncia foi feita contra 21 pessoas, suspeitas de torturar os presos. Um deles é o delegado Silvan Rodney Pereira, ex-chefe da Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, onde começaram as investigações sobre o assassinato de Tayná. Ele e outros policiais civis, militares e guardas municipais, além de um preso de confiança, foram presos pela tortura ainda em julho, após a libertação dos jovens. Apesar de, no decorrer das investigações, terem sido soltos, seguem como suspeitos das agressões.
Desde então, duas investigações seguem em paralelo: o caso de tortura contra os jovens inicialmente acusados da morte da jovem e o inquérito sobre o assassinato de Tayná. Ambos são acompanhados pelo Ministério Público. No caso da morte de Tayná, após passar por três delegados da Região Metropolitana, segue em mãos do delegado Cristiano Quintas, da Delegacia de Homicídios de Curitiba. Ele já pediu por duas vezes prorrogação do prazo para entrega do inquérito ao Ministério Público. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) segue com as investigações sobre a tortura.