Estudantes do Ensino Fundamental e Médio de Curitiba participam nesta quarta-feira (31) do lançamento regional da campanha "É da nossa conta! Trabalho Infantil e Adolescente", idealizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Fundação Telefônica Vivo. Pela manhã, as atividades aconteceram no Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli, na Cidade Industrial, e à tarde estão programadas para ocorrer no calçadão da Rua XV, centro da capital.
Durante a mobilização no colégio, os meninos e meninas distribuíram panfletos e adesivos e colaram cartazes. Entre os materiais entregues aos alunos estavam um gibi idealizado pelo cartunista Mauricio de Sousa e uma edição especial da revista Viração, feita por jovens educomunicadores.
Segundo Camila Andrade, da Viração, que atuou como facilitadora em oficinas prévias desenvolvidas com os jovens, o objetivo da ação foi sensibilizar os diversos setores da sociedade civil sobre o tema. "A questão do trabalho infantil é pouco trabalhada nas grandes mídias, e menos ainda nas escolas. Por isso as pessoas ainda pensam que [a prática] é aceitável. Mas temos que lutar para mudar essa lógica", afirma.
"Aprendi muitas novas coisas [durante a mobilização]. A gente pode parar e refletir sobre o que as pessoas sofrem lá fora", diz Thiago Lopes, de 14 anos.
Rendimento - Para a professora Raquel Stadler Barnes, do Rodolpho Zaninelli, campanhas como essa são importantes para conscientizar não só os alunos, mas também os pais. Segundo ela, há muitos adolescentes que trabalham para ajudar os familiares e que, por essa razão, acabam tirando notas ruins. "A gente quando vê que o aluno está com mais de cinco faltas num mês comunica as pedagogas, que fazem contato com os pais, para verificar por que. Há pais que recebem bem e pedem para o filho trocar de serviço, mas há também famílias que dizem que precisam do dinheiro. A região aqui é pobre e infelizmente elas às vezes precisam, para se manter", conta.
"Os próprios adolescentes às vezes querem ter as suas coisas. E, como os pais não têm a condição de dar, eles acabam optando por trabalhar", completa.
É o caso, por exemplo, do menino Enzo (nome fictício), de 16 anos, que há seis meses trabalha em uma rede de lanchonetes da capital. "Chego da escola, me troco e vou para o trabalho. Saio de lá às 22h, mas só entro em casa por volta de meia-noite. Minha mãe reclama quando falto aula, mas é que fico muito cansado para estudar", revela.
A jornada de Enzo é das 15 às 22h, incluindo fins de semana. "Tenho uma folga por semana e também posso folgar em um domingo por mês", explica o garoto, que pretende cursar Administração quando terminar o Ensino Médio.
A professora afirma que já procurou os pais do garoto, que pediram que ele permanecesse no trabalho até o fim do ano. "O ‘Enzo’ está ciente de que o trabalho dele está interferindo no rendimento escolar".
Legislação - No Brasil, jovens de 14 e 15 anos só podem trabalhar na condição de aprendizes; e os de 16 e 17 anos em atividades que não sejam perigosas ou degradantes, desde que protegidos por uma série de condições. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, 3,6 milhões de meninos e meninas de 5 a 17 anos trabalhavam no país em 2011, o que corresponde a 8,6% da população nessa faixa etária.
Segundo a secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), Isa Oliveira, a aprendizagem instituída em lei deve assegurar o direito do adolescente de frequentar a escola e ter um bom rendimento escolar. "É uma qualificação para o mercado de trabalho, uma forma de garantir que quando esse jovem chegue à idade adulta tenha condições de conseguir um trabalho decente", diz.