A cultura miscigenada dos holandeses que vivem no Brasil desde a Segunda Guerra Mundial está retratada na exposição do fotógrafo holandês Bart Sorgedrager, a partir de hoje, às 9 horas, na Casa Romário Martins, no Largo da Ordem.
"As Colônias Agrícolas Holandesas no Brasil", compõem um conjunto de 54 fotografias feitas em 1990 e editadas num livro do fotógrafo, com patrocínio da Fundação Mondrian (Holanda). Bart esteve percorrendo as colônias do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul durante três meses e surpreendeu-se com o grau de desenvolvimento das cooperativas agrícolas - forma de administração rural coletiva trazida pelos holandeses e que atualmente não existe mais na própria Holanda.
Segundo Paulo Reis, assessor cultural do Museu da República (RJ), onde a exposição foi realizada em julho do ano passado, o que esteve em jogo no trabalho de Bart Sorgedrager foi registrar o que os holandeses que vieram para o Brasil construíram e como vivem os brasileiros descendentes desses imigrantes.
Segundo as pesquisas do fotógrafo, no Brasil, o primeiro povoado holandês do século 20 é Carambeí (PR), de 1911. Nos últimos 43 anos, surgiram mais uma dezena, entre eles Holambra e Holambra 2 (SP), Castrolanda (PR), Arapoti (PR), Não Me Toque (RS), Maracajú (MS) e Unaí (MG), que é o mais recente, fundado em 1984.
Há grandes diferenças de dimensão e de grau de desenvolvimento entre as diversas colônias. Dentro e em volta das colônias agrícolas vivem e trabalham holandeses junto com brasileiros. Mesmo assim, continua existindo certa distância entre esses dois grupos da população. A maioria dos holandeses encontra-se economicamente na classe média e desempenha funções de chefia, enquanto os brasileiros trabalham na terra.
A integração econômica das comunidades no mercado brasileiro é rápida, o que significa que os imigrantes holandeses e seus descendentes têm que se orientar pela política brasileira. A consequência é que os vínculos com a Holanda se afrouxam cada vez mais.
Os contrastes e semelhanças entre as colônias foram registrados com sensibilidade por Bart Sorgedrager. No texto de apresentação da exposição, o fotógrafo brasileiro Rogério Reis destaca que Sorgedrager tem a narrativa dos grandes contadores de história e a curiosidade do repórter. "Bart fala de um homem simples. Digno e empreendedor. Seu desafio maior é expandir fronteiras, recriar vida em novas terras. Documentar uma nova identidade cultural nessa "Holanda brasileira", onde seria possível uma festa de São Nicolau com churrasco de costela ao som de música sertaneja (...) O olhar de Bart sabe pontuar bem as sutilezas entre o belo e o real."
Bart Sorgedrager nasceu em 12 de maio de 1959, em Terborg, na Holanda. Estudou na Academia de Arte St. Joost, em Breda, na Academia de Arte de Amsterdam e na Escola de Design Parsons, em Nova York (EUA). Realizou exposições fotográficas em diversas cidades da Holanda e também da Bélgica. Agora, o trabalho de Sorgedrager chega ao Brasil e pode ser conferido na Casa Romário Martins, uma das unidades da Fundação Cultural de Curitiba.
Apesar de ser um fotógrafo esportivo, depois desse trabalho no Brasil, Bart viajou de volta para a Europa onde realizou uma pesquisa inédita sobre os abrigos nucleares militares construídos sob estações de trem durante a Segunda Guerra Mundial e sobre as quais não havia registros oficiais.
Serviço: Exposição fotográfica "As Colônias Agrícolas Holandesas no Brasil", que reúne 54 imagens realizadas pelo fotógrafo holandês Bart Sorgedrager, na Casa Romário Martins (Largo da Ordem - Setor Histórico) O evento é resultado de uma parceria entre a Fundação Cultural de Curitiba e o Consulado Geral do Reino dos Países Baixos. Horário de visitas: até o dia 13 de maio, de terça a sexta-feira, das 9h às 12 horas e das 13h às 18 horas; sábados e domingos, das 9h às 14 horas. Entrada franca.