A cena cultural londrinense fica mais triste a partir desta segunda-feira (8), com a partida precoce e inesperada do jornalista Antônio Mariano Júnior. Mariano escreveu sua trajetória nas artes locais, onde seu principal legado foram as matérias e reportagens redigidas para o caderno Folha 2, da Folha de Londrina, por mais de duas décadas. Seu trabalho no veículo impresso atravessou as divisas do Paraná e fez dele uma referência no jornalismo cultural, reconhecido e respeitado em grandes centros, como São Paulo, pelo seu profundo conhecimento da Música Popular Brasileira. Mas ele também era cantor e emprestava sua voz e violão afinados aos clássicos da MPB e aos sambas.
Mariano também atuou na Gazeta do Povo, é co-autor do livro “O Espírito Guerreiro”, biografia do português naturalizado brasileiro Vasco de Almeida Martins, e teve textos impressos em publicações culturais estrangeiras, entre elas, a extinta revista DIF.
Foi por meio dos pais, os professores Antônio e Eurídice, seus grandes exemplos de vida, que Mariano teve seu primeiro contato com as artes. Seo Antonio lecionava português e literatura e foi quem apresentou ao filho o mundo literário. A música veio mais tarde, quando ainda adolescente, cantava em bares do interior paulista.
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Mariano chegou a Londrina em 1982, vindo de Tupi Paulista (SP), sua cidade natal, para cursar a faculdade de jornalismo na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Concluída a graduação, estabeleceu-se na terra pela qual era apaixonado e aqui fez muitos amigos. A também jornalista Telma Elorza foi uma das primeiras a entrar no círculo de amizades de Mariano, onde permaneceu por 42 anos. Trabalharam juntos na Folha de Londrina e eventualmente, dividiam o mesmo espaço profissional, entre eles, o N.Com, na Prefeitura de Londrina, durante a gestão de Alexandre Kireeff (2013-2016), a assessoria de imprensa da ExpoLondrina, e o portal Londrinense. “Ele me acompanhou em bons e em maus momentos, assim como eu também o acompanhei. Ele me chamava de ‘irmãe’ porque eu cuidava dele. A gente tinha um humor muito parecido e personalidades também, muito parecidas”, recordou.
Foi Elorza quem mobilizou, em 2013, uma corrente financeira e de orações em favor de Mariano, que em decorrência de uma trombose teve de amputar uma das pernas. Um ano mais tarde, nova corrente de solidariedade foi formada em apoio ao jornalista, que descobriu um trombo próximo ao coração. “O amor que existia entre a gente sempre foi maior do que qualquer diferença.”
Da redação da FOLHA também ficou a amizade com a jornalista Zilma Santos, a quem Mariano chamava carinhosamente de “minha iaiá” e, assim como ele, dona de uma voz igualmente afinada. “Na nossa profissão, formamos uma grande família, pelo tempo que passamos juntos, por compartilharmos segredos, conquistas, tristezas, alegrias. Era amigo-irmão. Profissional de primeira linha, talentosíssimo. Fizemos muitos duetos bregas na redação da Folha, onde passamos alguns dos melhores anos de nossas vidas. Ao Antônio, meu querido, toda minha reverência.”
A grande diferença de idade não foi impedimento para que o jornalista e professor do Departamento de Letras da UEL Renato Forin estreitasse a amizade com Mariano. Foi por meio de uma paixão em comum, a MPB, que os dois se aproximaram, em 2006. Desde então, passaram a colecionar histórias de vida. “Até 2006, eu não conhecia o Mariano pessoalmente, mas era fã dos textos que ele escrevia na Folha. Guardava muitos recortes. Quando fiz meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre o show Rosa dos Ventos, da (Maria) Bethânia, um professor indicou o Mariano para ser banca”, lembrou Forin.
Desde então, a proximidade entre eles só aumentou. “Era meu melhor amigo. Foi uma amizade arrebatadora”, comentou Forin, que conversou com a reportagem poucas horas após a morte de Mariano, “com gosto amargo e bola na garganta”.
Dono de uma personalidade “muito pacífica”, em sua autodefinição, Forin disse ter aprendido a ser mais combativo com o amigo. “Ele me ensinou muito com relação à bandeira do conflito e da alegria, que faltavam na minha personalidade. Ele era aguerrido em todas as suas causas, apaixonado pela vida e essa paixão do Mariano pela vida me ensinou demais.”
A parceria se estendeu aos palcos. Em 2019, Mariano gravou “A Mão do Tempo”, um disco independente em formato EP com seis faixas compostas por londrinenses, entre eles, Forin, que escreveu duas canções, incluindo a que deu nome ao álbum.
Forin relembrou os versos da canção “Prece”, composta em homenagem a Mariano, grande devoto de Nossa Senhora Aparecida.
“Eu recorro a vós, à Senhora Aparecida
Desembargue a minha voz
Tenho pressa da vida.
Tenho fome de gente e sede de ser feliz
Sei que a vida é emprestada
Quem esteve uma vez aqui diz(...)”
Antônio Mariano Júnior faleceu aos 59 anos, nesta segunda-feira (8), às 9h30, em decorrência de complicações causadas por uma obstrução intestinal. Deixa o companheiro, irmãos, cunhados e sobrinhos.
O velório será das 6h às 16h, desta terça-feira (9), na Acesf, e será cremado em seguida no Crematorium Londrina.
(Atualizada às 19h34)