Uma onda de violência tomou conta do centro de Porto Príncipe (capital do Haiti) neste domingo com a divulgação da notícia de que o presidente Jean Bertrand Aristide havia deixado o país.
Um posto de gasolina Texaco foi incendiado e homens utilizando armas automáticas dispararam contra carros.
Estabelecimentos e residências próximos ao Palácio Nacional foram vítimas de saques.
Centenas de partidários de Aristide armados com paus e fuzis andavam pela cidade gritando frases a favor do ex-presidente.
A delegacia central da polícia, que fica próxima ao Palácio Nacional, foi saqueada no domingo por partidários armados do presidente.
Cerca de 50 presos da penitenciária nacional de Porto Príncipe, no centro da cidade, fugiram.
A delegacia de Pétionville, nos subúrbios do sul, também foi saqueada pela população, depois dos policiais abandonarem o local.
Os partidários armados de Aristide continuavam dominando neste domingo algumas regiões de Porto Príncipe, onde entravam nas casas em busca de armas, afirmaram testemunhas.
Sob pressão internacional, Aristide seguiu neste domingo em direção à República Dominicana. No entanto, funcionários da diplomacia haitiana informaram que ele pode pedir asilo político ao Marrocos, Taiwan ou Panamá.
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, entretanto, já negou que tenha recebido o pedido de asilo político de Aristide.
Saques
A violência já havia tomado conta do Haiti mesmo antes da renúncia de Aristide.
Ontem, por exemplo, moradores saquearam depósitos, forças governistas atacaram a população e rebeldes aumentaram o cerco à capital haitiana.
Homens leais a Aristide roubaram e agrediram funcionários das embaixadas francesa e americana, segundo testemunhas.
Ao menos cinco pessoas morreram anteontem quando milícias pró-governo atacaram pessoas nas ruas, destruíram barricadas e saquearam o único hospital operante da capital. Alguns saqueadores foram vistos ontem andando com roupas de hospital.
A rádio privada Vision 2000 suspendeu suas transmissões após milícias, supostamente governistas, terem atacado sua sede a tiros na manhã de ontem.
Democracia
Aristide - o primeiro presidente eleito democraticamente no Haiti em 200 anos - chegou a dizer na madrugada de ontem que completaria o seu segundo mandato, que acabaria em 2006.
Cerca de 2.200 marines foram colocados em alerta, enquanto Washington estudava a possibilidade de enviar tropas para a costa haitiana para deter uma possível onda migratória em direção aos EUA e proteger cerca de 20 mil americanos que vivem no empobrecido país caribenho.
Os sinais da crise política e social também ficaram mais fortes ontem, com moradores saqueando depósitos, forças governistas atacando moradores e rebeldes aumentando o cerco à capital haitiana.
O ex-presidente do Haiti chegou neste domingo ao aeroporto de Barahona, na República Dominicana. Segundo o secretário de Comunicação da República Dominicana, Luis González Fabra, três aeronaves haitianas aterrissaram em Barahona.
Não se sabe ainda se a República Dominicana será o destino final do ex-presidente do Haiti.
Fontes da diplomacia do Haiti informaram que Aristide poderia pedir asilo político ao Marrocos, Taiwan ou Panamá. No entanto, Taiwan já negou que tenha recebido pedido de asilo do ex-presidente haitiano.
Crise
A crise no Haiti começou com a rebelião que eclodiu na cidade de Goinaves, no dia 5, e se espalhou pelo norte do país. Desde o início de fevereiro, os distúrbios no Haiti causaram mais de 80 mortes.
Com uma população de 7,5 milhões de pessoas, o Haiti é o país mais pobre das Américas. A expectativa de vida no país é de apenas 51 anos, enquanto a taxa de desemprego está em cerca de 70%.
No dia 21, Aristide aceitou o plano apresentado pela comunidade internacional, que previa uma ampla limitação de seus poderes até o fim de seu mandato, em fevereiro de 2006, e a realização de eleições.
O plano também previa a criação de um grupo de três pessoas representativas de Aristide, da oposição e da comunidade internacional, encarregadas de designar um conselho representativo da diversidade da sociedade haitiana. Esse organismo participaria na nomeação de um novo primeiro-ministro - neutro e independente - e de um novo governo.
A oposição rejeitou o plano e seguiu pedindo a saída imediata de Aristide.
As forças da polícia - cerca de 5.000 homens atualmente - seriam reorganizadas e treinadas sob controle da ONU (Organização das Nações Unidas) ou da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Os rebeldes contam com apoio de ex-soldados do Exército e de parte da população.
Informações Folha Online