Milhares de venezuelanos voltaram às ruas de Caracas neste sábado em duas manifestações diferentes, uma pró e outra contra o presidente da Venezuela Hugo Chávez.
Em uma reedição das marchas dos anos de crise política, a divisão entre os que apoiam as políticas adotadas pelo presidente, que defende o socialismo do século 21, e os opositores continua marcando o debate político no país.
No leste da capital Caracas, milhares de opositores vestidos com camisetas brancas protestavam em nome de velhas e novas polêmicas, como a recém aprovada lei de educação, que para a oposição é uma tentativa do Executivo de "ideologizar" o ensino nas escolas.
O governo, por sua vez, argumenta que a nova lei garante o acesso justo ao sistema educativo e o "livre pensamento".
"Não houve consulta com a população. Aprovaram a lei e pronto. Isso não é democrático", disse à BBC Brasil o estudante universitário Luis Mora, para em seguida acrescentar utilizando uma frase que tem sido reiterada pelo presidente venezuelano em seus 10 anos de governo. "Queremos democracia participativa e protagônica".
A "confusão" no discurso do estudante opositor provocou risos entre seus colegas. Mora imediatamente se defendeu: "Não, cuidado, não sou chavista, viu?".
Com bandeiras venezuelanas e cartazes em que se lia "Arréchate ( fique bravo, em tradução livre), não temos medo!", "Não mais Chávez", e com fotos de políticos e supostos presos políticos, os manifestantes foram até o Ministério Público entregar uma moção "em defesa do direito à protestar".
A polícia, que nas manifestações anteriores dispersou os protestos com gás lacrimogêneo, retirou a barreira de oficiais que havia sido instalada a poucos metros do Ministério Público. Dessa vez, não houve confronto com os manifestantes.
Acompanhada de seu cachorro, a empresária Patricia Arjona se queixava da "ingerência" de Chávez nos assuntos internos da Colômbia. "Se a Colômbia tem bases militares isso é problema deles, não nos afeta. Mas esse senhor (Chávez) se mete em tudo, acha que é o dono do mundo", disse Arjona.
Colômbia
O acordo militar firmado entre Bogotá e Washington, que prevê o uso de sete bases militares na Colômbia pelo Exército americano, é o pivô de uma das piores crises diplomáticas entre os vizinhos Colômbia e Venezuela. Para Chávez, as bases são "uma declaração de guerra" contra a chamada revolução bolivariana.
A presença militar dos Estados Unidos em território colombiano também tem preocupado os demais países da região, entre eles, o Brasil.
O debate sobre as bases militares também esteve presente na marcha chavista, que reuniu milhares de pessoas vestidas de vermelho, no centro da capital Caracas e nas principais cidades do país.
Para a assistente social Crismar Luna a presença militar norte-americana na Colômbia se trata de um plano "para derrubar o presidente".
"Estamos nas ruas para defender a revolução e o que os pobres conquistamos com esse governo", afirmou. "A oligarquia colombiana e a norte americana estão aliadas para acabar com o processo (governo) e com o exemplo que a revolução dá para toda a América Latina", acrescentou.
Enquanto os manifestantes dançavam e caminhavam ao som de músicas de protesto, Chávez interviu, por meio de uma ligação telefônica, que foi retransmitida em um carro de som.
"Pátria, socialismo ou morte!", gritou o mandatário venezuelano que está no Irã, um dos países que visita na viagem internacional que também inclui Argélia, Síria, Líbia, Rússia e Bielorrússia.
"Parabenizo a todos por continuarem derrotando a conspiração contra a pátria, estou orgulhoso de vocês", afirmou Chávez, que foi ovacionado pela multidão.
Cercada por jovens que carregavam um ônibus de papel incentivando a volta às aulas, a professora Kharelys Mata disse acreditar que a polarização no país está longe de acabar. "A oposição é incapaz de avaliar se algo é verdadeiramente bom ou ruim. Eles se negam a superar o eterno grito de fora Chávez ", disse, ao acrescentar: "Enquanto isso, nós continuamos ganhando".
A manifestação "pela paz" convocada pelo chavismo foi uma resposta aos protestos que ocorreram na sexta-feira, em diversas cidades latino-americanas, contra o presidente venezuelano.
Sob o lema "Não mais Chávez", ativistas colombianos usaram redes sociais na internet, como Facebook e Twitter, para organizar os protestos que pretendiam confrontar as críticas de Chávez sobre o acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos.