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Suspensão de restrições contra Covid nos EUA assemelham democratas a republicanos

16 fev 2022 às 08:35

Conforme o fim do inverno se aproxima nos Estados Unidos, várias cidades e estados, em especial os governados pelo Partido Democrata, estão deixando restrições impostas para conter a Covid-19 para trás.


Desde o início da pandemia, o país vive um cenário de politização do combate à crise sanitária. De modo geral, democratas defendem mais cautela, enquanto republicanos se posicionam contra restrições.


À medida que as regras vêm sendo flexibilizadas, lugares sob o comando do partido do presidente Joe Biden vão se aproximando da realidade de estados governados por republicanos, onde a maior parte das restrições foram encerradas ainda no ano passado ou nem chegaram a ser estabelecidas.


Nesta terça-feira (15), a cidade de Washington suspende a exigência de que estabelecimentos peçam o comprovante de vacinação dos frequentadores de restaurantes, academias e outros locais de lazer. E o uso de máscaras em lugares fechados não será mais cobrado a partir de 1º de março -com algumas exceções, como em escolas e no transporte público.


Ao anunciar a medida, na segunda-feira (14), a prefeita democrata Muriel Bowser disse que a exigência do imunizante já cumpriu sua função, já que mais de 50 mil pessoas tomaram doses após o anúncio da regra. Atualmente, mais de 93% dos moradores do Distrito de Columbia tomaram ao menos uma dose da vacina. O índice nacional é de 76%.


Também nesta terça, a Califórnia passará a permitir que vacinados deixem de usar máscaras em alguns ambientes fechados, como espaços de trabalho e de lazer. A proteção seguirá sendo exigida, porém, em ambientes como escolas, hospitais e prisões.


Na semana passada, o estado de Nova York retirou a exigência de máscaras em lugares públicos, mas deu autonomia a cada cidade para acionar ou suspender suas próprias medidas. Chicago, em Illinois, anunciou planos de encerrar a obrigatoriedade da proteção facial e do comprovante de vacinação a partir do fim de fevereiro –isso se os novos casos de coronavírus continuarem em queda.


Em outro reduto democrata, o estado de Nova Jersey, não será mais necessário usar máscaras a partir de 7 de março. Decisões semelhantes foram tomadas ainda em Connecticut, Delaware e Oregon.


Em estados governados por republicanos, como Flórida, Iowa, Oklahoma e Texas, o cenário é diferente. Não há cobrança de máscara ou vacinação, e leis estaduais proíbem empresas, escolas e outros locais de exigirem comprovante de vacinação ou uso de proteção facial.


No país, cada estado e cidade tem autonomia para decidir suas regras. Uma determinação nacional exige o uso de máscara apenas nos transportes coletivos, como ônibus, trens e aviões, assim como em instalações do governo federal.


Na capital americana, a nova rotina é andar com o rosto livre pelas ruas e colocar a máscara ao entrar em estabelecimentos fechados, como supermercados, restaurantes e bares. O passaporte de vacina passou a ser exigido há um mês, em 15 de janeiro. A cobrança pelo comprovante de imunização era bastante frequente, embora, na prática, não ocorresse em todas as ocasiões previstas pelas autoridades.


Em ao menos duas ocasiões, garçons de restaurantes de Washington solicitaram a este repórter que apresentasse o passe vacinal mas, instantes depois, dirigiram-se a outras mesas e pareceram se esquecer de olhar o documento. Se não cumprirem a regra, os estabelecimentos podem receber multas de até US$ 1.000 e, em caso de reincidência, perder a licença de funcionamento.


Em jogos de hóquei e basquete, realizados já com casas cheias, funcionários dos ginásios fiscalizam as arquibancadas procurando torcedores sem máscara. À distância, eles apontam uma luz forte no rosto de quem está sem o acessório até que a proteção seja recolocada –só pode ficar sem máscara quem estiver comendo ou bebendo.


Em movimento contrário, a cidade de Boston optou por intensificar medidas. A partir desta terça, só os que apresentarem um comprovante de que receberam ao menos doses da vacina contra o coronavírus poderão frequentar restaurantes, academias e outros espaços de lazer.


A prefeita Michelle Wu disse que Boston também ainda não está pronta para abrir mão da exigência de máscaras. Ela estabeleceu, porém, um indicador que, se alcançado, pode ser o gatilho para um recuo nas restrições: a ocupação das UTIs tem que estar abaixo de 95%, as internações por Covid não podem ser mais de 200 por dia e a incidência de resultados positivos seja, no máximo, 5% do total de testes.


Rafael Meza, professor de infectologia da Universidade de Michigan, avalia que é difícil estabelecer métricas precisas para decidir quando retirar as medidas, mas que essa análise precisa ser feita sempre em âmbito local, já que, dentro de um mesmo estado, pode haver condições bem variadas de uma região para outra.


Para o especialista, o relaxamento das medidas quando o número de casos diminui é uma boa ideia para deixar claro que as restrições serão usadas só quando for realmente necessário.


"As pessoas estão cansadas, e é importante que elas não sintam que as restrições impostas nunca mais serão retiradas", diz. "Precisamos explicar melhor o porquê das decisões de colocar medidas e de retirá-las. A disparidade de ações entre os estados, além de ser confusa, também erode a confiança do público."


O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), sob administração federal, considera as liberações ainda prematuras. "Agora não é o momento. A orientação do CDC não mudou", disse Rochelle Walensky, diretora da entidade. "Continuamos a recomendar máscaras em áreas de alta transmissão. Eu sei que as pessoas estão interessadas em tirar as máscaras. Eu também estou."


Anthony Fauci, principal assessor médico do governo Biden, tem se mostrado mais otimista. "Não há maneira de erradicar esse vírus. Mas espero que estejamos observando um momento em que tenhamos um número suficiente de pessoas vacinadas e com proteção adquirida em infecções anteriores, para que as restrições da Covid em breve sejam coisa do passado", afirmou, em entrevista ao Financial Times.

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