Um ritual indígena, realizado nesta madrugada numa área central de Brasília com propósitos comemorativos, acabou em tiros, tumulto e agressões. A polícia teve que intervir e até a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi acionada para evitar um confronto de maior proporção entre os índios e os moradores da vizinhança, que se sentiram incomodados com a pajelança e pediram providências às autoridades.
Programado para celebrar o Compromisso Pataxó, o ritual foi realizado na Praça do Índio, mesmo local onde há sete anos o cacique pataxó Galdino de Jesus foi queimado vivo por um grupo de jovens de classe média de Brasília. Desde então, a Praça vem sendo usado em manifestações e rituais em defesa da causa indígena.
Obrigados a interromper a celebração por causa da denúncia, os índios teriam reagido com ameaça aos moradores e tentativas de invasão de algumas residências durante a madrugada. Um morador, Otávio Brasil, chegou a dar tiros e a situação ficou ainda mais tensa durante toda a madrugada e manhã de hoje.
Só com a chegada da Polícia Federal e o reforço do Batalhão de Choque foi possível controlar os ânimos. Otávio disse que que atirou para se defender da ameaça de invasão de sua residência.
Os índios desmentiram essa versão e disseram que apenas dançavam e ouviam músicas ritualísticas. Por volta da meia-noite, a polícia chegou e pediu que fizessem menos barulho. Eles baixaram o som, mas continuaram a festa. Mas, segundo o coordenador-geral dos Pataxós da Bahia, cacique Zeca, os moradores chamaram a polícia mais uma vez.
Na versão dos índios, depois que os policiais foram embora, Otávio Brasil teria dado três tiros na direção de um índio que passava em frente à casa dele. "Ele atirou sem motivo. Poderia ter matado um colega nosso", afirmou. "Já perdemos um parente aqui. Será que querem acabar com os pataxós?".
Maria das Graças, mulher de Otávio, contou que o marido deu apenas um tiro em legítima defesa. "Depois que chamamos a polícia, eles vieram para a nossa casa e tentaram invadi-la. Jogaram pedras e deram murro até quebrar o vidro", contou.
Maria disse que sua filha foi ameaçada. "Um homem disse que conhecia minha filha e sabia os horários dela. Estamos apavorados! Nem saímos de casa hoje. Tem três policiais na porta da minha casa. Não sei o que pode acontecer quando forem embora".
O recém-empossado presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, ficou de se encontrar ainda hoje com os representantes indígenas para discutir soluções para o impasse. O delegado Paulo Cassiano, da Polícia Federal, encarregado do caso, disse que as investigações estão sendo feitos e que ainda não sabe quem é o culpado.
Informações Agência Brasil