Cerca de 400 pessoas ficaram feridas nesta quinta-feira (2) no Cairo durante confrontos entre a polícia egípcia e manifestantes que protestavam contra a violência nos estádios.
Na praça Tahrir, autoridades usaram gás lacrimogêneo para tentar conter a multidão, revoltada com um confronto entre torcedores após um jogo de futebol ocorrido na véspera em Porto Said. O conflito deixou mais de 70 mortos e centenas de feridos.
O manifestantes acusam a polícia de não agir para garantir a segurança depois da partida, em que torcedores do Al-Masry invadiram o gramado depois que o time local venceu por 3 a 1 o Al-Ahly, do Cairo.
Muitos morreram prensados contra as grades do estádio ou caíram das arquibancadas, enquanto outros foram alvejados com pedras, cadeiras e até facas.
O episódio provocou uma nova onda de tensão no Egito e abalou a confiança em relação ao conselho militar governante, em um momento em que o país se prepara para eleições presidenciais cujo objetivo é transferir o poder para um governo civil.
Em resposta, o governo - que declarou três dias de luto oficial - convocou reuniões emergenciais de gabinete nesta quinta.
Confronto político
A tragédia ganhou contornos políticos, já que além dos protestos, a Irmandade Muçulmana, maior partido do atual Parlamento, acusou simpatizantes de Mubarak de provocarem os distúrbios para levar o "caos" ao Egito.
O partido acusa os generais de fomentar o confronto para evitar uma transferência pacífica do poder. Há ainda especulações dizendo que partidários to ex-líder teriam incentivado torcedores do Al-Masry a entrarem em choque com os rivais do al-Ahly, por terem participado dos grandes protestos pró-democracia.
No entanto, o correspondente da BBC no Oriente Médio Wyre Davies afirma que essas teorias, no momento, não passam de meras especulações.
"Muitos dos torcedores do al-Ahly participaram das batalhas na praça Tahrir, lutando por mais emprego e oportunidades. Eles têm ódios dos privilégios das autoridades", afirma Davies.
"Mas o que sabemos com certeza é que a polícia mal treinada e mal paga falhou na hora de separar torcedores rivais com um histórico de violência. Após a queda de Mubarak, é de se esperar que haja união, na expectativa de uma nova era. Mas a realidade é que o Egito continua mergulhado no caos."
'Qualquer lugar do mundo'
Hussein Tantawi, líder do conselho militar egípcio, esteve em uma base aérea do Cairo para se encontrar com torcedores e jogadores do Al-Ahly que haviam sido removidos de Porto Said.
"(O episódio) não vai derrubar o Egito", disse o líder militar, segundo a agência Associated Press. "Esses incidentes podem ocorrer em qualquer lugar do mundo. Não deixaremos os culpados escaparem."
Nesta quinta, autoridades de Porto Said e da associação de futebol do Egito foram demitidas por conta do episódio. O governador local renunciou, enquanto o diretor de segurança da cidade e o chefe de investigações policiais foram suspensos e estão sob custódia policial.