O primeiro avião com brasileiros repatriados do Líbano pousou na manhã deste domingo (6) em São Paulo.
A aeronave KC-30 da FAB (Força Aérea Brasileira) tocou o solo na base aérea de Guarulhos (SP) por volta das 10h30.
No voo, estavam 229 cidadãos brasileiros que optaram por deixar o Líbano devido à escalada do conflito entre o Hezbollah e Israel.
Assim como ocorreu no primeiro voo de resgate de brasileiros e familiares que deixaram a Faixa de Gaza, em novembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula (PT) da Silva recebeu os passageiros no aeródromo, acompanhado pela primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja.
O petista votou por volta de 9h30 em São Bernardo do Campo, seu berço político, e então seguiu para o aeroporto em Guarulhos num helicóptero. Chegou à base aérea praticamente no mesmo instante em que o avião dos repatriados pousava.
O grupo desembarcou às 11h. As primeiras pessoas a sair do avião foram três meninas que seguravam uma bandeira do Líbano. Atrás delas, um homem vestido com a camisa do Brasil ergueu as mãos para o céu.
O estudante Karim Halawy, 21, veio logo depois, também com uma blusa da seleção brasileira. Ele tinha acabado de chegar no Líbano quando a capital, Beirute, começou a ser alvejada.
"Eu ia voltar em novembro, mas Israel interrompeu as viagens e eu fiquei preso lá", disse à Folha. "Vi a morte literalmente na minha frente. Ouvi as bombas por perto, coloquei as mãos na cabeça, chorando, esperando que a casa caísse em mim", disse.
O voo, segundo ele, foi difícil, mas bom. "A gente está vivo, graças a Deus. O medo passou, agora já estamos no fácil".
Familiares dos passageiros esperavam na base aérea desde cedo. Um deles, o empresário Hicham Abouhamze, que veio ao aeroporto acompanhado do pai, da esposa e dos dois filhos, afirmou estar feliz por reencontrar os sogros. Eles estavam no Líbano há mais de um ano, visitando filhos e netos, e precisaram sair do lugar onde estavam por causa dos bombardeios.
Abouhamze afirma, porém, que segue apreensivo por amigos e outros familiares que ficaram no país sob ataque. "Os bombardeios continuam incessantemente, de forma bárbara", disse ele. "Familiares, parentes, amigos tiveram que sair de suas casas e não tinham para onde ir. Muitos estão nas ruas, em praias e em barracas", afirma.
O avião da FAB permaneceu algumas horas em Beirute no sábado (5) para embarcar os brasileiros e três animais de estimação, e fez uma parada em Lisboa para reabastecimento antes de seguir viagem para o Brasil.
Num primeiro momento, o governo previa retirar os nacionais na sexta (4), mas questões de segurança levaram ao adiamento do plano.
Uma das passageiras do voo, a brasileira Nessryn Khalaf, compartilhou no sábado nas redes sociais um vídeo do seu percurso até o aeroporto em Beirute. Nele, via-se a fumaça causada por um bombardeio de Israel ao Líbano na noite anterior.
O Itamaraty informou nesta semana que pelo menos 3.000 brasileiros preencheram formulários de interesse para entrar na fila da repatriação. A missão deve durar ao menos seis semanas.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, estimou que a FAB tem capacidade para repatriar cerca de 500 brasileiros por semana, com modelos KC-30 e KC-390.
O Líbano vem sendo atacado de maneira cada vez mais ampla por Israel nas últimas semanas, em meio à guerra que se desenrola há quase um ano no Oriente Médio.
Diante do aumento das tensões, o governo Lula anunciou o início de uma operação de repatriação, nos moldes do que ocorreu após os ataques terroristas do Hamas contra Israel em outubro do ano passado. Na ocasião, mais de 1.400 pessoas foram repatriadas de Israel, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, atualmente cerca de 20 mil brasileiros vivem no Líbano, além de cidadãos que estão visitam o país.
Segundo o ministro, o levantamento sobre a comunidade brasileira em território libanês tem sido feito desde outubro do ano passado, mês em que Hamas atacou Israel e desencadeou a guerra atual, e que desde agosto há sondagens sobre os interessados em deixar o Líbano.
O critério estabelecido pelo governo prevê prioridade para brasileiros não residentes no Líbano, depois os residentes. Dentro dessas categorias, haverá prioridade para os critérios previstos por lei: idosos, mulheres, gestantes, crianças, doentes e pessoas com deficiência.