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Presença de HPV na boca aumenta chances de câncer

09 nov 2007 às 18:49

Estudo realizado pela Unifesp encontrou o Papilomavírus humano (HPV) na biópsia de 74% dos portadores de câncer de boca. Em todos os casos avaliados, os vírus eram do tipo oncogênico, capaz de desenvolver tumores malignos.

Engana-se quem pensa que o Papilomavírus Humano (HPV) provoca câncer apenas no colo do útero. Homens, principalmente, também podem ser vítimas do vírus e desenvolverem câncer de boca.


Uma pesquisa apresentada como tese de doutorado na Unifesp e publicada na edição deste mês de uma das mais conceituadas revistas sobre doenças da boca no mundo, a Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, mostra que o HPV está, sim, relacionado à maior parte dos casos de carcinoma espino-celular (CEC) da cavidade bucal.


De acordo com o autor da pesquisa, Carlos Eduardo Ribeiro da Silva, que é estomatologista do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Unifesp e professor da Universidade Santo Amaro (Unisa), a mucosa da boca é muito semelhante às mucosas da vagina e do colo do útero, locais do corpo humano facilmente infectados pelo vírus durante as relações sexuais. "Como a boca tem um papel na relação sexual tão importante quanto a região genital, é importante sabermos qual o vínculo entre a presença do vírus nesse local e as doenças malignas da boca, pois, quando diagnosticado precocemente, esse câncer é curável em 100% dos casos".


No estudo, que avaliou 60 amostras de mucosa da boca - sendo 50, de portadores do carcinoma já confirmados e, 10, de pacientes sem evidências clínicas de lesões (grupo controle) -, 37 dos portadores de câncer (74%) apresentaram resultado positivo para os papilomavírus oncogênicos, considerados os mais perigosos pela capacidade de desenvolverem tumores malignos.


Já no grupo controle, apenas uma das amostras (10%) foi positiva para o vírus. Entretanto, o tipo encontrado, nesse caso, não provoca câncer. A análise estatística apontou um risco 25,5 vezes maior de os portadores de HPV na cavidade oral desenvolverem câncer.


Silva, que é cirurgião dentista especializado em estomatologia (doenças da boca) alerta que a pessoa infectada por HPV e também o seu parceiro devem ser acompanhados periodicamente por meio de exames clínicos e complementares para o diagnóstico precoce e tratamento, se necessário.


Todos os participantes da pesquisa eram do sexo masculino, com mais de 40 anos, brancos e fumantes. Características presentes no grupo considerado, estatisticamente, como de maior incidência dos cânceres bucais, segundo o dados de 2002 do Instituto Nacional do Câncer (INCA).


HPV: maioria das infecções é transitória


Os Papilomavírus humanos (HPV) são vírus capazes de produzir lesões de pele ou mucosa e a principal via de transmissão é a sexual. Apesar de menos comum, é possível se infectar por outras vias, como a sangüínea, pelo canal do parto, pelo beijo e até mesmo por objetos contaminados.


Grande parte das infecções, entretanto, são transitórias, pois o sistema imunológico produz anticorpos capazes de inibir a ação do vírus, eliminando-o, principalmente entre os indivíduos mais jovens.


Vários estudos no mundo apontam que 10% a 40% da população sexualmente ativa estão infectados por um ou mais subtipos de HPV e que esse índice varia entre 50% e 80% nas mulheres.


Atualmente, já são descritos mais de 200 subtipos de HPV, mas somente os subtipos de alto risco (chamados de oncogênicos) estão relacionados a tumores malignos, como no caso de câncer de colo de útero. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam que a prevalência de HPV nos casos de câncer de colo uterino no país seja de 94%.


Câncer de boca: diagnóstico tardio


O câncer de boca, que inclui os cânceres de lábio e da cavidade oral (mucosa, gengivas, língua, palato duro e assoalho da boca), é uma importante causa de mortalidade e morbidade no Brasil e o coloca como o 8º tipo mais freqüente entre homens e 9º entre as mulheres. Segundo dados do INCA, a estimativa da incidência de casos de câncer bucal, para 2006, era de 10.060 casos estimados entre homens e 3.410 entre as mulheres.

Silva explica que, no Brasil, a doença é diagnosticada, na maioria das vezes, tardiamente, quando o prognóstico é pior e a cura, mais difícil. "A estimativa é que cerca de 75% dos casos de câncer bucal sejam diagnosticados em fases mais avançadas". (Das agências)


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