A revisão do Tratado de Itaipu vem sendo reivindicada pelo Paraguai há anos e foi uma das principais bandeiras de campanha do presidente Fernando Lugo, eleito em 2008. Além de questionar a dívida de US$ 19,6 bilhões que o país tem com o Brasil, referente à construção da usina hidrelétrica binacional, o Paraguai pedia "preço justo" pela energia que não vende ao Brasil e o direito de comercializar aquilo que não consome a terceiros países.
Pelo tratado de construção de Itaipu, cada país tem direito a 50% da energia produzida pela usina e a energia não utilizada deve ser vendida ao sócio. Hoje, Itaipu fornece 90% da energia utilizada pelo Paraguai - o volume, porém, equivale a cerca de 5% dos 50% que o país têm direito. O restante é vendido à Eletrobrás.
Em reunião ministerial realizada em janeiro, em Brasília, o governo brasileiro apresentou, como contrapropostas, a criação de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras de infraestrutura no país vizinho, e de um fundo binacional para estimular a atividade produtiva no Paraguai. O Brasil também se propôs a dobrar a taxa de US$ 105 milhões paga anualmente pela cessão da energia excedente do país vizinho. O Paraguai não concordou.
As conversas mais uma vez não avançaram durante visita de Lugo ao Brasil, em maio. Na ocasião, 14 acordos em diferentes áreas estavam prontos para serem firmados, mas acabaram não sendo fechados devido às divergências quanto à Itaipu.
Nos últimos meses, os governos intensificaram as negociações. Na última quarta-feira, o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, teve reunião de quase três horas com Lugo, e negociadores dos dois países se reuniram em busca de um acordo. Durante toda a semana, o tema foi manchete dos jornais paraguaios, sobrepondo-se à Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada ontem (23) em Assunção.
Ontem, às vésperas da Cúpula do Mercosul, Itaipu foi manchetes de todos os jornais paraguaios. Pelas ruas da cidade, faixas diziam "Itaipu, 50% da energia é nossa". Para a população, o encontro entre os presidentes era muito mais importante que a cúpula regional. "Pode entrar dinheiro no nosso país", justificava o taxista Carlos Gonzalez dias antes do encontro.
Em comunicado à nação, após a reunião com o presidente Lula, Lugo comemorou o acordo, lembrando que em dez meses foi possível conquistar algo que não foi obtido em 30 anos. Mas, segundo Lugo, em se tratando de Itaipu, não há vencedores ou derrotados. Para ele, o consenso foi uma vitória para os dois países.