O corpo do indigenista Orlando Villas Bôas foi sepultado ontem por volta das 16 horas, com honras militares, no cemitério do Morumbi, zona sul de São Paulo após uma rápida cerimônia em que os caciques caiapó Raoni, Megaron e Bepcom, os três do Parque do Xingu, entoaram a música indígena preferida do amigo. Cerca de 50 pessoas entre familiares, pesquisadores, antropólogos e autoridades participaram da cerimônia de enterro.
Villas Bôas estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em uma de suas unidades de terapia intensiva. Sua morte foi causada por falência múltipla dos órgãos, desencadeado pro processo agudo de infecção intestinal.
Os caciques caiapó vieram de Brasília com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Artur Nobre Mendes, na noite de quinta-feira para o velório de Villas Bôas, no Hall Monumental da Assembléia Legislativa de São Paulo.
''Perdemos nosso pai'', repetiam Raoni, Megaron e Bepcom, abraçando a mulher e os filhos do sertanista Orlando Villas Bôas, como se estivesem consolando parentes queridos. Os índios enxugavam as lágrimas com um lencinho de papel, que passavam de um para outro, sem nenhum constrangimento por chorar.
''Orlando me ensinou a língua portuguesa, e o seu irmão Cláudio também. Quando eu entendi o português. Ele contou a história dele e eu contei a história dos índios. Sempre trabalhamos juntos para o meu povo no Xingu. Ele e Marina tratavam dos índios doentes e, quando um índio passava mal, ele mandava trazer para São Paulo...'' Misturando português com a língua dos caiapós, Raoni resumiu nessas palavras uma comovedora relação de mais de 50 anos de solidária amizade.