Número de "escravos" libertados é 100% maior do que em 2002
MAURO ALBANO
da Agência Folha
A libertação de 124 trabalhadores em condição considerada análoga à escravidão em duas fazendas de Rondônia, na semana passada, fez o número total de "escravos" localizados pelo Ministério do Trabalho neste ano superar em quase 100% o número de libertados em todo o ano passado.
De janeiro a julho de 2003, foram libertados 2.546 trabalhadores rurais _212 apenas no início deste mês. Em 2002, foram encontrados 1.275 peões em situação análoga à escravidão, segundo o Ministério do Trabalho.
As fiscalizações do ministério geraram o pagamento de R$ 1.197.667,00 em indenizações trabalhistas no ano passado. Neste ano, já foram pagos R$ 3.210.730,00. De acordo com o Ministério do Trabalho, o número crescente de libertações reflete uma maior eficiência na fiscalização, e não o aumento da prática do trabalho escravo.
Em março, o governo federal lançou o Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, que prevê _entre outras medidas_ alterações na legislação para aumentar a punição aos fazendeiros que cometerem o crime.
A CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da Igreja Católica, calcula que existam hoje 25 mil peões escravizados no Brasil _principalmente em fazendas do sul do Pará e norte do Mato Grosso, onde o crime é mais frequente.
Nas duas fazendas fiscalizadas na semana passada em Rondônia, no município de Corumbiara, os fiscais encontraram os peões em alojamentos precários, trabalhando sem carteira assinada e sem receber salário. Eles eram obrigados a contrair dívidas com funcionários da fazenda para comprar comida, ferramentas e material de segurança _artigos que o próprio fazendeiro deveria fornecer.