Milhares de soldados, estudantes e trabalhadores norte-coreanos marcharam, na quinta-feira (28) na principal praça da capital Pyongyang aos gritos de "morte aos imperialistas dos Estados Unidos" e "eliminar os agressores dos Estados Unidos", horas depois de o líder Kim Jong-un decidir direcionar mísseis para alvos localizados em território norte-americano.
A multidão agitava punhos cerrados, enquanto desfilava pela praça Kim Il-sung, a mesma na qual são realizadas as paradas militares sincronizadas que se transformaram em símbolo do país. Imagens do evento mostravam grupos uniformizados e organizados, em um indício de que a demonstração estava longe de ser espontânea. De qualquer maneira, a mobilização popular representa mais um passo na escalada de ameaças desencadeada pelo regime de Kim Jong-un no início do mês, em resposta a exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
O regime de Pyongyang anunciou o abandono do armistício que colocou fim à Guerra da Coreia, em 1953, e de todos os tratados de não-agressão firmados pelos dois lados da península coreana. Depois, ameaçou realizar ataques nucleares preventivos contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul e, ontem, direcionou mísseis aos dois países.
Analistas temem o caráter imprevisível de Kim Jong-un, que tem 30 anos e chegou ao comando da potência nuclear em dezembro de 2011, depois da morte de seu pai, Kim Jong-il.
"Kim Jong-un é perigoso, jovem, inexperiente e está ansioso por mostrar à população que pode ser bem-sucedido", opinou o sul-coreano Heungkyu Kim, professor da Sungshin Women''s University e ex-consultor do Conselho de Segurança de seu país. Na Rússia, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse temer que a região escorregue para a "espiral" de um círculo vicioso. "Nós podemos perder o controle da situação", declarou, de acordo com a agência Itar-Tass.
Lavrov criticou de maneira implícita os Estados Unidos, ao afirmar que não se deve usar a tensão na península como pretexto para o fortalecimento militar e a busca de "objetivos geopolíticos".
Na quarta-feira (27), os norte-americanos anunciaram que dois bombardeiros "invisíveis" B-2 participaram dos exercícios militares que realizam com a Coreia do Sul, o que gerou a decisão de Pyongyang de direcionar mísseis aos territórios de ambos os países.
Capazes de carregar armas nucleares, os jatos são equipados com dispositivos que impedem a sua detecção por radares, o que permite sua entrada furtiva no espaço aéreo de outros países. Principal aliado da Coreia do Norte, a China repetiu o apelo para que os envolvidos mantenham a calma e busquem reduzir a tensão na península.
A imprensa oficial da Coreia do Norte divulgou, na quinta-feira (28) fotos nas quais Kim Jong-un aparece diante de um mapa com planos do país para um eventual ataque aos Estados Unidos. Em outras imagens, havia um quadro com dados do arsenal militar do isolado regime, no qual estavam listados 1.852 aviões, 40 submarinos, 13 navios, 27 embarcações de apoio e seis detectores de minas _parte dos números estava encoberta por oficiais que apareciam na foto.
A versão online do principal jornal oficial do país, o Rondong Sinmun, estava dominada por referências belicosas, com fotos de soldados em exercícios militares, de tanques e de Kim Jong-un rodeado por generais do Exército. Citando fontes militares de Seul, a agência de notícias sul-coreana Yonhap disse que há aumento de atividade nos locais de lançamento de mísseis de médio e longo alcance no país vizinho.
O fortalecimento militar é a prioridade da Coreia do Norte e está na base da doutrina "O Exército em Primeiro Lugar", criada por Kim Jong-il. Desde que chegou ao poder, Kim Jong-un manteve a política inalterada e obteve avanços no programa nuclear do país.
Em dezembro, a Coreia do Norte lançou um foguete de longo alcance, no que os norte-americanos classificaram como teste de míssil balístico intercontinental, atividade proibida por resoluções aprovadas no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
No dia 12 de fevereiro, o país realizou seu terceiro teste nuclear, com a explosão de um bomba menor, mais potente e mais leve que as detonadas em 2006 e 2009. O Conselho de Segurança respondeu com novas sanções econômicas contra o país, aprovadas por unanimidade no dia 7 de março.