Na luta pela conquista de espaços, mais e mais mulheres têm se lançado no mercado norte-americano como empreendedoras. Um levantamento do Instituto de Desenvolvimento para Empreendedorismo do Conselho Nacional de Mulheres Proprietárias de Empresas (livre tradução para National Woman's Business Council – NWBC), feito no ano passado, mostrou que 31% das empresas norte-americanas pertencem a mulheres. Uma em cada cinco tem receita superior a um US$ 1 milhão.
O estudo mostrou ainda que em 2017 existiam mais de 9,4 milhões de empresas pertencentes a mulheres nos Estados Unidos. Em 2015 eram 9,1 milhões, 300 mil novas empresas geridas por mulheres foram criadas no período. A receita estimada gerada foi de um US$ 1,7 trilhão nos últimos três anos.
A tendência de crescimento tem se sustentado nos últimos anos. O número de total de empresas criadas nos Estados Unidos cresceu 47%, entre 1999 e 2014. Nesse universo, aquelas que pertencem às mulheres aumentaram 68%. Na geração de empregos, as empresas comandadas por mulheres responderam por mais da metade das vagas do mercado de trabalho em 2017 - 8,3 milhões de empregados no ano passado, de um total de 16 milhões no universo de todas as empresas.
Motivação
O levantamento revelou que vários fatores influenciaram no aumento das empresas geridas por mulheres, entre eles maior acesso a linhas de financiamento direcionadas ao público feminino, bem como campanhas motivadoras para pequenas empreendedoras. Em relação à tomada de decisão entre abrir ou não seu próprio negócio, o principal fator motivador, segundo a pesquisa, foi a busca de flexibilidade em prol do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
Entrevistas e grupos focais foram feitos para traçar o perfil das empreendedoras em Houston, Los Angeles e Washington DC, analisando proprietárias de pequenas, médias e grandes empresas. A Agência Brasil conversou com Ana Carolina Teixeira, sócia-proprietária da Quattro – uma companhia sediada em Orlando, na Flórida, que agrega empresas que atuam em quatro áreas: incorporação e gestão de empreendimentos, imobiliária, administração e design.
Com formação na área de marketing de produtos, ela deixou o Brasil em 1999 e mudou-se para Nova York, transferida pela empresa em que trabalhava, uma multinacional do setor de produtos de higiene. Após um ano e meio na cidade, deixou o trabalho e mudou-se para Orlando com o marido. Na Flórida, teve os três filhos e entre o nascimento do primeiro e do segundo, começou a trabalhar como corretora de imóveis, entre 2004 e 2005.
"Era um mercado interessante para mim e podia trabalhar de forma mais independente", contou. A empresária lembrou que durante a crise imobiliária de 2008 o mercado teve forte impacto, mas que na época mudou seu foco para a compra de casas. "Havia uma oferta muito grande e a venda foi prejudicada, mas havia uma oportunidade para a compra".
Desafios
Aproveitando as oportunidades, Ana Carolina acabou abrindo a empresa em sociedade, em 2010, e expandindo o negócio até consolidar o grupo que hoje é um dos maiores de Orlando – um mercado bastante aquecido e muito procurado por brasileiros e pessoas de outros países latinos. A empresária afirmou que apesar de sempre ter lutado por seu espaço, percebe que as portas hoje se "abrem mais facilmente" às mulheres.
"Hoje, ainda participo de reuniões em que sou a única mulher, mas a consciência sobre os direitos das mulheres aumentou. As mulheres estão se tornando cada vez mais empoderadas e isso se reflete na maneira como nos posicionamos".
Ana Carolina comemora bons resultados econômicos. No ano passado, a empresa vendeu US$ 22 milhões e do grupo de 16 colaboradores que tem, 90% são formados por mulheres. "A maioria com filhos e que, ainda assim, se dedicam 100% ao trabalho. Ótimas profissionais", comenta, orgulhosa.
Movimento crescente
No último ano, tapetes vermelhos das premiações nos Estados Unidos foram marcados por vestidos pretos, em manifestações contra o assédio sexual na indústria do cinema no país, depois de revelada uma série de escândalos envolvendo produtores poderosos. Campanhas nas redes sociais engajaram artistas e internautas.
Mas muito antes, atrizes como Reese Wtherspoon já vinham lutando para fazer a diferença em um ambiente que, por muito tempo, vem sendo liderado por homens. Há sete anos, ela criou a Pacific Standard, uma produtora especializada em contar histórias sobre mulheres. O filme Garota Exemplar, de 2014, e a série Big Little Lies, ambos produzidos pela produtora renderam milhões de dólares e foram sucesso de crítica. O filme foi indicado ao oscar de melhor atriz e a série levou quatro globos de Ouro.
Reese é uma das protagonistas de um movimento que atua para apoiar mulheres empreendedoras. Ela tem o respaldo de outros nomes importantes da mídia norte-americana, como a apresentadora Oprah Winfrey. Ophah tem sido cotada por grupos liberais para a próxima corrida presidencial e, ao ser homenageada na premiação do Globo de Ouro deste ano, lembrou-se do passado de abusos que sofreu e falou que chegou o tempo em que as mulheres serão ouvidas e respeitadas.