A polícia da Tunísia deteve neste domingo dezenas de manifestantes islamitas que tentavam atacar os escritórios de um canal de televisão que havia apresentado o premiado filme Persépolis. A ação é a última de uma série de investidas contra notórios símbolos de secularismo realizada por muçulmanos radicais na Tunísia, antes das importantes eleições marcadas para este mês. Antes reprimidos pelo antigo regime, os muçulmanos conservadores estão se fazendo ouvir cada vez mais no meio político tunisiano.
O porta-voz do Ministério do Interior Hichem Meddeb disse que a polícia bloqueou os atacantes antes que eles pudessem chegar aos escritórios da emissora privada Nessma, localizada no centro de Túnis, e deteve cerca de 50 pessoas.
Meddeb disse que houve feridos, sem especificar quantos, e enfatizou a "determinação das autoridades em se opor aos desordeiros".
O presidente da Nessma, Nabil Karoui, disse que os atacantes estavam irritados porque o canal mostrou recentemente Persépolis, filme de Marjane Satrapi que fala sobre seu crescimento durante a Revolução Islâmica de 1979. Karoui disse que os radicais consideram o filme hostil às suas convicções religiosas. O filme conquistou o prêmio do júri no Festival de Cinema de Cannes em 2007.
"Estes extremistas querem impor uma nova ditadura", disse Karoui à Associated Press. "Somos um canal que luta pela liberdade, pela modernidade e pela democracia. Nós não vamos recuar e continuaremos a seguir nossa linha editorial independente."
Os tunisianos terão importantes eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte em apenas duas semanas, depois de terem derrubado o antigo ditador durante um levante popular em janeiro. Os nove meses seguintes têm sido marcados por levantes e manifestações, assim como o surgimento de novos grupos muçulmanos ultraconservadores que se mantiveram discretos durante o regime secular do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali.
Em junho os salafistas, como os conservadores são conhecidos, atacaram um cinema onde estava passando um filme que eles consideravam insultante ao Islã e na última quinta-feira o reitor de uma faculdade disse que o campus também foi atacado. Moncef Ben Abdeljelil, reitor da escola de humanidades da Universidade Sousse, disse que quatro pessoas armadas com facas ameaçaram os funcionários da universidade por sua recusa em inscrever estudantes que usam o véu islâmico. No sábado, outros 200 estudantes invadiram o local com faixas exigindo que as estudantes que usam o véu possam se inscrever.
Sob o governo de Ben Ali, manifestações externas de religiosidade eram desencorajadas, mas desde sua queda tem havido o ressurgimento do Islã conservador. No sábado, 200 mulheres fizeram uma manifestação na capital Túnis contra "as forças do atraso e os fanáticos".
O partido que está na liderança da pesquisas de intenção de voto é o Ennahda, um movimento islamita moderado que foi severamente reprimido sob o regime anterior. As informações são da Associated Press.