O presidente da Argentina, Javier Milei, voltou a acusar seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de corrupção e de interferência nas eleições presidenciais argentinas nesta terça-feira (2), dias antes de o ultraliberal embarcar para o Brasil -quando não deve, no entanto, encontrar-se com o petista.
As acusações foram feitas pelo argentino em uma publicação no X direcionada a uma outra pessoa cujo nome ele não revelou -o líder se refere a este destinatário apenas como "perfeito dinossauro idiota". Na postagem, Milei usa o termo "agressões" para definir as atitudes de Lula.
O texto começa com Milei insistindo que a tentativa de golpe de Estado na Bolívia na semana passada, fracassada, foi uma armação. A primeira vez em que seu governo defendeu essa teoria fez com que o governo boliviano convocasse o embaixador da Argentina em La Paz para prestar esclarecimentos, um ato de reprimenda no meio diplomático.
Em seguida, o ultraliberal volta a dizer que tinha apenas "falado a verdade" sobre Lula depois que o brasileiro condicionou um encontro com Milei a um pedido de desculpas por parte do argentino em uma entrevista na quarta-feira passada (26). "Não conversei com o presidente da Argentina porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas", disse o petista na ocasião.
Milei rejeitou energeticamente a sugestão de Lula dois dias depois, na sexta-feira (28), ao falar à emissora LN+, do jornal La Nacion. "Desde quando é preciso pedir perdão por dizer a verdade?", questionou. "É porque o chamei de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção? É porque o chamei de comunista? Por acaso não é comunista?"
Além de voltar a chamar o petista de corrupto, na postagem desta terça, o ultraliberal também resgata as acusações que fez, sem provas, a Lula na época das eleições presidenciais argentinas, no ano passado.
No trecho, ele diz que o brasileiro interferiu fortemente na campanha eleitoral e apoiou de maneira firme "a campanha mais suja da história", no caso a do adversário de Milei no pleito, o peronista Sergio Massa.
Milei termina a publicação dizendo que "se tivéssemos feito as coisas como esse grande dinossauro idiota mandou, o LLA [A Liberdade Avança, coalizão de Milei] teria perdido". E finaliza com seu já conhecido bordão: "Viva a liberdade, caralho", ali em um acrônimo em espanhol, "VLLC".
As novas acusações de Milei contra Lula têm potencial para exacerbar as tensões entre os dois presidentes, que já vinham aumentando nas últimas semanas.
A situação tinha voltado a se intensificar nesta segunda (1º), quando Milei anunciou sua ausência na cúpula do Mercosul -que começa em Assunção, no Paraguai, neste domingo (7)-, à qual Lula comparecerá. O presidente argentino confirmou presença em uma conferência conservadora em Balneário Camboriú, onde deve fazer palestra no sábado (6).
O evento, Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora), contará com a presença de Jair Bolsonaro (PL). O filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), afirmou que o líder argentino tem planos de se reunir com ele.
O porta-voz do presidente argentino, Manuel Adorni, não confirmou a informação, e disse que seu chefe cancelou sua participação na cúpula do Mercosul por problemas de agenda. A impressão, no entanto, é de que Milei não só trocou um evento pelo outro como escolheu se reunir com o ex-presidente Bolsonaro em vez de com Lula em sua primeira viagem ao Brasil após sua eleição à Presidência.
Ainda de acordo com Adorni, os custos da visita ao Brasil serão pagos pela própria Cpac. Milei, porém, iria no avião presidencial.