A ex-primeira-dama Michelle Obama encerrou a primeira noite da convenção democrata, nesta segunda-feira (17), com um discurso forte contra o presidente Donald Trump e o apelo para que os americanos votem em novembro em número sem precedente para eleger Joe Biden à Casa Branca.
Michelle fez um dos discursos mais esperados da noite, ao lado do proferido pelo senador Bernie Sanders, mas surpreendeu com a mensagem tão assertiva contra Trump. Geralmente moderada e adepta a tratar dos temas políticos de forma mais geral, Michelle disse que o presidente está completamente perdido na função de governar e que não pode "simplesmente fingir que está fazendo um bom trabalho."
"Donald Trump é o presidente errado para o nosso país. Ele teve tempo mais do que suficiente para provar que pode fazer o trabalho, mas ele está claramente perdido. Ele não pode atender a esse momento. Ele simplesmente não pode ser quem ele precisa ser para nós. É o que é", afirmou a ex-primeira-dama.
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Em uma fala gravada de quase vinte minutos, Michelle cumpriu o roteiro que foi pano de fundo da primeira noite da convenção democrata, pedindo uma ampla aliança em torno de Biden e que eleitores que não votaram em 2016 o façam este ano para tirar Trump do cargo –o voto não é obrigatório nos EUA.
"Há quatro anos, muitas pessoas decidiram acreditar que seus votos não tinham importância. [...] Essas escolhas levaram à Casa Branca uma pessoa que perdeu a votação popular por uma diferença de quase três milhões de votos", disse Michelle. Ainda assim, como a eleição nos EUA se dá de forma indireta, por meio do Colégio Eleitoral, Trump venceu nos estados considerados chave e levou a Presidência americana.
"Se você pensa que as coisas não podem piorar, confie em mim, elas podem e vão se nós não mudarmos algo com essa eleição. Se temos alguma esperança de acabar com esse caos, temos que votar em Joe Biden como se nossas vidas dependessem disso."
Michelle destacou o que diz ser qualidades de Biden ao fazer críticas sobre a má condução de Trump da pandemia que já matou mais de 170 mil pessoas nos EUA e levou o país a uma crise sem precedentes.
Ela disse que o ex-vice de Obama tem empatia, ou seja, consegue se colocar no outro neste cenário de luto, porque já perdeu familiares, como a mulher e dois filhos.
"Eu conheço o Joe, ele é um homem decente, guiado pela fé, ele escuta, ele vai falar a verdade e acreditar na ciência", afirmou Michelle.
Uma das grandes contraposições feitas entre a campanha de Biden em relação ao governo Trump é como o democrata encara o coronavírus, evitando aglomerações e sempre usando máscara, ao contrário do presidente que, por muito tempo, se recusou a fazer isso.
A ex-primeira-dama ainda abordou temas como racismo e justiça racial, lembrando dos protestos após a morte de George Floyd, um negro asfixiado por um policial branco em Minnesota.
Na convenção democrata de 2016, ela havia feito um discurso também marcante, em que disse que acorda todas as manhãs em uma casa "que foi construída por escravos."
"E vejo minhas filhas, duas lindas e inteligentes jovens negras, brincando com seus cachorros no gramado da Casa Branca."
Nesta segunda, ela lembrou os nomes dos jovens negros assassinados por policiais nos últimos anos no país e disse que eles não podem continuar aumentando uma lista de inocentes que perderam suas vidas.
A expectativa era que Michelle falasse também da indicação da senadora Kamala Harris para a vaga de vice de Biden, a primeira mulher negra a concorrer ao cargo na história dos EUA. O discurso da primeira-dama, porém, foi gravado, segundo a imprensa americana, antes da escolha de Harris, na semana passada.
A convenção democrata está sendo conduzida pela primeira vez de maneira remota em razão da pandemia.
Os eventos seguem até a quinta-feira (20), quando Biden será oficializado candidato à Casa Branca, tendo Harris como vice em sua chapa.
Moderados, os dois tentam construir uma coalizão ampla, com eleitores progressistas, independentes e até mesmo republicanos que estão cansados da retórica agressiva de Trump.
O senador Bernie Sanders, ícone da ala mais à esquerda democrata, fez um discurso de união, ao contrário de 2016, quando perdeu a nomeação para Hillary Clinton e rachou o partido.
Desta vez, ele mudou de postura e disse que seu objetivo é derrotar Trump. Para isso, apelou para que seus eleitores -jovens e latinos- votem em Biden e pregou união até mesmo entre conservadores e àqueles que votaram no atual presidente há quatro anos.
"Sob este governo, o autoritarismo criou raízes no nosso país. Enquanto eu estiver aqui, vou trabalhar com progressistas, moderados e, sim, com conservadores para preservar esta nação de uma ameaça que tantos de nossos heróis lutaram e morreram para derrotar", disse o senador.
Na avaliação de Sanders, o futuro da democracia nos EUA estará em jogo caso Trump continue no poder, e é preciso "um movimento sem precedentes" para vencer "uma crise sem precedentes" e tirá-lo do cargo.
"Esta eleição é a mais importante na história moderna deste país. Em resposta ao conjunto sem precedentes de crises que enfrentamos, precisamos de uma resposta sem precedentes, um movimento, como nunca antes, de pessoas que estão preparadas para se levantar e lutar por democracia e decência e contra a ganância, a oligarquia e o autoritarismo", afirmou.